Liniker prestou uma homenagem a Lô Borges em suas redes sociais nesta terça-feira (4). Em um vídeo, a artista aparece cantando e tocando ao violão uma versão de “O Trem Azul”, um dos maiores clássicos do compositor mineiro, que morreu no último domingo (2), aos 73 anos, em decorrência de falência de múltiplos órgãos.
A homenagem de Liniker ecoa a importância de um legado construído com canções que se tornaram parte da memória afetiva do país, como “Paisagem da Janela” e “Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”.
A trajetória de Lô Borges está intrinsecamente ligada ao Clube da Esquina. Foi a partir dos encontros com amigos no bairro de Santa Tereza, em Belo Horizonte, que nasceu o movimento. A amizade e a cumplicidade musical com Milton Nascimento foram o eixo dessa união, que culminou no seminal álbum “Clube da Esquina” (1972), onde Lô, com apenas 20 anos, já se destacava como uma das principais vozes e forças criativas.
Ainda em 1972, impulsionado pelo impacto do disco coletivo, ele lançou seu primeiro álbum solo, “Lô Borges”, que ficaria conhecido como o “disco do tênis”. O trabalho é um marco da MPB e mostra a versatilidade de um artista que, mesmo tão jovem, já dominava a fusão do rock com a bossa nova e as harmonias complexas que se tornariam sua assinatura.
As parcerias foram uma constante em sua obra, sendo a mais duradoura com seu irmão, o letrista Márcio Borges. Essa capacidade de se conectar com outros talentos atravessou gerações, como prova a parceria com Samuel Rosa e Nando Reis em “Dois Rios”, um dos grandes sucessos do Skank.
O artista estava internado em Belo Horizonte desde 17 de outubro, após uma intoxicação medicamentosa. De acordo com boletins médicos, o quadro foi causado por remédios de uso domiciliar e, em 25 de outubro, ele precisou passar por uma traqueostomia, respirando com auxílio de aparelhos desde então.
Seus últimos anos de vida foram marcados por uma surpreendente explosão de produtividade. Desde 2019, o músico lançou uma sequência de sete álbuns com material inédito, mostrando que sua veia criativa permaneceu pulsante até o fim.

Principais sucessos de Lô Borges
“O Trem Azul”
Composta com Ronaldo Bastos para o álbum “Clube da Esquina”, a canção se tornou uma de suas assinaturas. A melodia nostálgica e a letra imagética foram regravadas por nomes como Elis Regina e se tornaram um hino informal para a torcida do Cruzeiro.

“Um Girassol da Cor do Seu Cabelo”
Outra faixa marcante do disco de 1972, escrita com seu irmão Márcio Borges. A canção é um exemplo da delicadeza poética do Clube da Esquina e foi revisitada por artistas como Silva e Vanessa da Mata.

“Paisagem da Janela”
Com letra de Fernando Brant, a música transforma uma cena do cotidiano de Belo Horizonte em um retrato poético e universal. É uma das canções mais representativas da parceria entre os membros do Clube da Esquina.

“Tudo o que Você Podia Ser”
Embora imortalizada na voz de Milton Nascimento, a composição é dos irmãos Lô e Márcio Borges. Lançada em “Clube da Esquina”, a música fala sobre sonhos e expectativas de uma forma que muitos interpretam como uma sutil reflexão sobre a juventude durante a ditadura militar.

“Para Lennon e McCartney”
Uma espécie de “carta aberta” aos Beatles, ídolos do Clube da Esquina. Composta por Lô, Márcio Borges e Fernando Brant, a música é uma afirmação da identidade sul-americana (“Eu sou da América do Sul / Eu sei, vocês não vão saber”) e uma celebração da cultura brasileira.

“Quem Sabe Isso Quer Dizer Amor”
Popularizada na voz de Milton Nascimento, a canção foi composta pelos irmãos Borges e descreve com delicadeza as manifestações simples e complexas do amor. Tornou-se um clássico do repertório romântico da MPB.

“Clube da Esquina Nº 2”
Originalmente uma faixa instrumental de Milton Nascimento, a música ganhou letra de Márcio Borges e foi gravada por Lô em seu álbum “A Via Láctea” (1979). A versão com vocais se tornou um hino do movimento e celebra a amizade e a união do grupo.

“Trem de Doido”
Uma das faixas mais psicodélicas e roqueiras do álbum “Clube da Esquina”, composta por Lô e Márcio Borges. A letra faz referência aos trens que transportavam pacientes para o Hospital Colônia de Barbacena, um notório hospício em Minas Gerais.




