A morte de Jards Macalé, aos 82 anos, nesta segunda-feira (17), deixa uma lacuna na música brasileira e torna ainda mais especiais os reencontros recentes que ele protagonizou no palco. Um dos mais marcantes aconteceu em novembro de 2023, quando o artista se juntou a Caetano Veloso para celebrar os 50 anos do álbum “Transa”.
Na ocasião, Caetano realizou dois shows no Espaço Unimed, em São Paulo, para revisitar o disco gravado em Londres, durante seu exílio. Para a celebração, ele reuniu no palco a banda original que participou da produção em 1972: Tutty Moreno (percussão), Áureo de Sousa (bateria) e o próprio Macalé (violão e guitarra), com a ausência de Moacyr Albuquerque (baixo), que morreu em 2000.
O show foi um mergulho na memória afetiva do álbum. Após um bloco inicial com canções das fases “pré” e “pós-Transa”, como definiu o próprio Caetano, Macalé foi ovacionado ao subir ao palco. Juntos, eles repetiram “You Don’t Know Me” e, em seguida, Caetano deixou o palco para que Jards cantasse “Mal Secreto”, um de seus maiores sucessos.
A noite de celebração também contou com a presença de Angela Ro Ro, que tocou gaita na faixa “Nostalgia” na gravação original. A cantora, que morreu em setembro deste ano, aos 75 anos, protagonizou um bloco especial no show, cantando seus sucessos, como “Amor, Meu Grande Amor”.
Sem Macalé não haveria ‘Transa’. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. […] Chamei-o para Londres e: ‘Transa’. Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado
Caetano Veloso
Jards Macalé estava internado em um hospital no Rio de Janeiro e não resistiu a complicações após uma cirurgia pulmonar. Segundo sua equipe, ele “chegou a acordar de uma cirurgia cantando ‘Meu Nome é Gal’, com toda a energia e bom humor que sempre teve”.
A presença de Macalé era fundamental para a existência de “Transa”. Em uma homenagem emocionada publicada nesta segunda, Caetano Veloso relembrou a importância do amigo. “Sem Macalé não haveria ‘Transa’ [álbum de 1972]. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. Antes de Bethânia imaginar que seria chamada para o ‘Opinião’, Alvaro Guimarães, diretor teatral baiano, me trouxe ao Rio para montar e mixar o curta para o qual eu tinha feito a trilha. Fui parar na casa de Macalé. E ele tocou violão. Me encantei. Ele tocou com Beta, lançou composições, chamei-o para Londres e: ‘Transa'”, publicou o baiano. “Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado”.
O repertório do show de 2023 foi além das sete faixas do disco, incluindo canções como “Irene”, “Maria Bethânia”, “Araçá Azul” e “Sem Samba Não Dá”. O público, majoritariamente jovem, cantou com fervor todas as músicas, mostrando a força e a atemporalidade de “Transa”.
Um dos pontos altos foi a execução de “Nine Out of Ten”, com o público gritando “bora, Macau!” antes do solo de guitarra de Macalé, um momento que se repetiu no bis da apresentação.
O show em 2023 foi uma das últimas grandes celebrações em palco da genialidade e da parceria de Jards Macalé, um artista que, como Caetano disse, foi essencial para a música brasileira.




