O ator Wagner Moura foi um dos protagonistas do protesto contra a chamada PEC da Blindagem e o projeto de anistia aos condenados pelos atos de 8 de Janeiro, na manhã deste domingo (21), em Salvador. Em cima de um trio elétrico comandado pela cantora Daniela Mercury na região do Morro do Cristo, o ator fez um discurso inflamado e cantou “Várias Queixas”, clássico da banda Olodum e também sucesso na voz do trio Gilsons mais recentemente.
“PEC da Blindagem é pros covardes!”, disse Daniela após a fala de Wagner Moura. O ator, que dirigiu o filme “Marighella”, criticou a proposta de anistia para golpistas, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e a extrema direita.
O protesto em Salvador, convocado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, foi um dos mais de 30 atos programados para acontecer em diversas cidades brasileiras neste domingo. Na capital baiana, Daniela Mercury recebeu ainda o rapper Baco Exu do Blues, a atriz Nanda Costa e a percussionista Lan Lahn.
“Sem anistia, sem PEC da Blindagem. A gente está aqui em Salvador dizendo para o mundo inteiro que não aceitamos essa PEC da impunidade para os deputados federais. Não aceitamos para nenhum deputado”, afirmou a cantora em outro momento, segurando uma bandeira do Brasil.
O principal alvo dos protestos é a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 3/2021. Aprovada na Câmara e agora no Senado, a proposta dificulta a investigação de parlamentares, exigindo autorização prévia do Legislativo para a abertura de processos criminais, e restabelece o voto secreto para essas decisões. Artistas e movimentos sociais apelidaram a medida de “PEC da Bandidagem”.
No Rio de Janeiro, o ato em Copacabana, a partir das 15h, reunirá um trio histórico da MPB: Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil. Eles serão acompanhados por nomes como Djavan, Paulinho da Viola, Marina Sena e Os Garotin.
Em São Paulo, a manifestação na avenida Paulista conta com as presenças de Otto, Dexter, Marina Lima, Jota.pê, Agnes Nunes, entre outros. Outras capitais também terão atos com artistas, como Belo Horizonte (com Fernanda Takai, Djonga e FBC), Brasília (Chico César) e Vitória (Silva).
A mobilização da classe artística foi articulada, em parte, por Caetano Veloso e sua esposa, Paula Lavigne, através da organização 342 artes. “A ‘PEC da Bandidagem’ tem que receber uma resposta saudável, socialmente saudável, uma manifestação de que grande parte da população brasileira não admite um negócio desse”, disse Caetano em vídeo publicado nas redes.
Os atos deste domingo também se posicionam contra a proposta de anistia “ampla, geral e irrestrita” para os condenados pelos ataques de 8 de janeiro de 2023, que poderia beneficiar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
A presença dos artistas, segundo a organização, é fundamental para ampliar o alcance dos protestos. “Esses artistas alcançam públicos que nós, dos movimentos sociais e populares de esquerda, não alcançamos”, afirmou Raimundo Bonfim, coordenador da Central de Movimentos Populares, à Folha de S.Paulo.