A despedida de Arlindo Cruz, um dos maiores nomes da história do samba, foi marcada por música, emoção e celebração. O velório do artista, que morreu na sexta-feira (8), aos 66 anos, por complicações de uma pneumonia, aconteceu na quadra da escola de samba Império Serrano, no Rio de Janeiro, e se estendeu por 16 horas, terminando na manhã deste domingo (10).
O velório começou na noite de sábado (9) com uma cerimônia para os orixás conduzida pelo terreiro frequentado pelo artista, que era filho de Xangô. Em seguida, uma grande roda de samba tomou conta da quadra, com músicos, amigos e familiares cantando os maiores sucessos compostos e interpretados por Arlindo Cruz. Os filhos do sambista, Arlindinho e Flora Cruz, e sua viúva, Babi Cruz, estavam muito emocionados. Várias coroas de flores foram enviadas por artistas, escolas de samba e pelo presidente Lula.
Arlindinho, filho de Arlindo, cantou “O Show Tem que Continuar”, um dos clássicos do Fundo de Quintal que seu pai compôs. “O ensinamento que ele me deu é de luta, perseverança e de ser um sambista vencedor. É isso que eu vou fazer: seguir lutando e honrando o nome dele”, disse.
A cerimônia seguiu o ritual gurufim, uma tradição de origem africana comum na despedida de sambistas, onde a tristeza dá lugar a uma festa com música, bebida e dança para celebrar a vida e garantir uma partida tranquila para quem se foi. Nomes como Bira Presidente e Beth Carvalho também tiveram o gurufim em seus velórios.
O coreógrafo Carlinhos de Jesus, mesmo em cadeira de rodas, fez questão de homenagear o amigo. “Perdi um amigo e um irmão. Vai a matéria, mas a obra dele, a história dele, a lembrança dele vai ficar conosco. Hoje ele se torna o maior poeta do samba”. O cantor e compositor Marquinhos de Oswaldo Cruz também exaltou o parceiro: “O coração mais generoso da música brasileira era o Arlindo”. Outro amigo que esteve na quadra foi Marcelo D2.
A vice-presidente do Império Serrano, Paula Maria, lembrou do amigo e compadre. “Eu sou muito grata a Deus por ter tido a oportunidade por conviver e ver o gênio. Ele gravou no terreno da minha casa a canção ‘Estrela de Madureira’. Ele me falou que […] com aquela música ele ficaria conhecido como cantor e foi o que aconteceu”.
Arlindo Cruz estava internado desde maio no Hospital Barra d’Or. A saúde do sambista estava fragilizada desde 2017, quando sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) que o deixou com sequelas graves.
Neste domingo (10), após o fim do velório, o corpo saiu da quadra em um pequeno cortejo final para o sepultamento, seguido por música e batidas pausadas de surdo. O momento foi de grande comoção, principalmente de sua viúva, Babi Cruz.
O enterro aconteceu no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Na hora de baixar o caixão, houve toque de trompete e uma oração. Arlindinho ficou sentado assistindo ao término do enterro bebendo uma lata de cerveja, enquanto sua mãe Babi e sua irmã Flora se abraçaram.
Com informações da Agência Brasil