Nem a chuva constante que persistiu em São Paulo na noite deste sábado (10) foi capaz de apagar o fogo que emanava, literalmente, do Allianz Parque. Cerca de 50 mil fãs, muitos deles ensopados, transformaram o estádio em um caldeirão de energia para a primeira das três apresentações do System of a Down na cidade. Pontualmente às 21h, a banda armênio-estadounidense subiu ao palco para um espetáculo de aproximadamente 1h50, provando a força atemporal de seu som e a devoção de seu público.
Enquanto o público enfrentava o frio e a água, no palco, o quarteto parecia inabalável. Serj Tankian, com sua voz inconfundível, e Daron Malakian, alternando entre riffs pesados e vocais rasgados, lideraram a performance com a empolgação característica. A atitude também era visível no baixista Shavo Odadjian, com suas idas e vindas pelo palco, e na precisão do baterista John Dolmayan. Dolmayan, aliás, antes mesmo do show, repetiu o gesto de carinho e visitou os fãs na área PCD, assim como havia feito no Rio de Janeiro, demonstrando uma proximidade rara.
A noite começou com a potente “Attack”, do álbum “Hypnotize” (2005), seguida por “Suite-Pee” e a clássica “Prison Song”, cujo refrão sobre o sistema prisional americano foi cantado em uníssono, já estabelecendo o tom político e crítico que permeia a obra da banda. A trinca inicial foi o suficiente para aquecer a plateia e dar início às primeiras rodas de bate-cabeça na pista.
Faixas como “Violent Pornography”, com sua letra ácida, a melódica e poderosa “Aerials” e a frenética “I-E-A-I-A-I-O” vieram na sequência, recebidas com entusiasmo e coros fervorosos. As letras, que abordam desde críticas sociais e políticas até reflexões existenciais com um humor peculiar, continuam ressoando fortemente com o público brasileiro.
Um dos momentos de maior impacto visual e emocional da noite, e que tem se repetido ao longo da turnê “Wake Up!”, ocorreu durante “Soldier Side”. Organizados pelos fã-clubes, milhares de celulares iluminaram o estádio com papéis celofane coloridos de azul, vermelho e laranja, formando a bandeira da Armênia. O gesto é um poderoso lembrete dos 110 anos do genocídio Armênio e da contínua luta pelo reconhecimento dessa tragédia, uma causa central e profundamente pessoal para os membros da banda, todos de ascendência armênia.
A intensidade da apresentação seguiu com “B.Y.O.B.” (“Bring Your Own Bombs”), um hino antiguerra que questiona diretamente o papel dos líderes mundiais nos conflitos, e a hipnótica “Hypnotize”, que mesmo com sua melodia mais cadenciada, não diminuiu a energia da plateia. A banda manteve a rotatividade no setlist, trazendo de volta para São Paulo canções como “Streamline”, “Forest”, “DAM” e “War?”, que haviam ficado de fora na apresentação do Rio de Janeiro, mas estiveram presentes em Curitiba.
O ápice da noite, como esperado por muitos, veio com a sequência de “Chop Suey!”, um dos maiores sucessos comerciais da banda, “Toxicity”, com seu riff marcante, e “Sugar”, que tradicionalmente encerra as apresentações. Foi durante “Toxicity” que Daron Malakian, observando a resposta fervorosa do público, exclamou: “Nós não temos pirotecnia no palco, mas nossos fãs trazem a porra do fogo!”. A frase foi o estopim para que diversos sinalizadores fossem acesos em diferentes pontos do estádio, pintando o céu chuvoso de vermelho e criando um espetáculo visual à parte, que inclusive mobilizou seguranças e bombeiros em uma busca (sem muito êxito) pelos responsáveis.
Clássicos absolutos como “Psycho” (com seu tradicional e divertido trecho de “You Should Be Dancing”, dos Bee Gees, inserido por Daron) e a melancólica “Lonely Day” não faltaram, mostrando a versatilidade do grupo em alternar peso e melodia.
A noite de sábado foi apenas o começo da maratona do System of a Down em São Paulo. A banda retorna ao Allianz Parque para um segundo show com ingressos esgotados neste domingo (11). A última oportunidade de ver a banda nesta turnê sul-americana será na quarta-feira (14), no autódromo de Interlagos, para o qual ainda restam alguns ingressos.
Nós não temos pirotecnia no palco, mas nossos fãs trazem o fogo!
Daron Malakian, guitarrista do System of a Down
A banda brasileira Ego Kill Talent é responsável pela abertura de todas as noites em São Paulo. No show de Interlagos, os norte-americanos do AFI também se juntam à programação, prometendo mais uma noite de peso para os fãs.
Vídeos da passagem por Curitiba já demonstravam a intensidade e a qualidade sonora que a banda traria ao Brasil, expectativas que foram plenamente confirmadas na primeira noite paulistana.
Esta passagem da turnê “Wake Up!” pela América do Sul, que se encerra em São Paulo, começou em Bogotá (24/4), com uma homenagem às vítimas e aos sobreviventes do genocídio Armênio. O giro ainda passou por Lima (27/4), Santiago (30/4), Buenos Aires (3/5), Curitiba (6/5) e Rio de Janeiro (8/5), antes de chegar à capital paulista.
A turnê “Wake Up!” se consolida, assim, como um dos grandes eventos de rock/metal do ano no país, reunindo milhares de fãs e reafirmando o legado e a relevância do System of a Down.
Setlist do System of a Down em São Paulo (10.mai.2025)
- Attack
- Suite-Pee
- Prison Song
- Violent Pornography
- Aerials
- Mr. Jack
- I-E-A-I-A-I-O
- Genocidal Humanoidz
- A.D.D.
- Needles
- Deer Dance
- Soldier Side – Intro
- Soldier Side
- B.Y.O.B.
- Radio/Video
- Bubbles
- Dreaming (somente o breakdown)
- Hypnotize
- ATWA
- Bounce
- Suggestions
- Psycho (com trecho de “You Should Be Dancing”, dos Bee Gees)
- Chop Suey!
- Lost in Hollywood
- Lonely Day
- Streamline
- Forest
- DAM
- War?
- Roulette
- Toxicity
- Sugar
System of a Down – Turnê “Wake Up!” em SP
SÃO PAULO
Quando: 11 de maio de 2025
Onde: Allianz Parque (av. Francisco Matarazzo, 1.705, Água Branca, zona oeste, São Paulo, SP)
Quanto: esgotado
Mais informações: eventim.com.br
SÃO PAULO
Quando: 14 de maio de 2025
Onde: Autódromo de Interlagos (av. Sen. Teotônio Vilela, 261, Interlagos, zona sul, São Paulo, SP)
Quanto: R$ 247 a R$ 595
Mais informações: eventim.com.br
Fotos de System of a Down em show da turnê ‘Wake Up!’ em SP








