A cantora, empresária e apresentadora Preta Gil morreu neste domingo (20), aos 50 anos, após um período de tratamento de saúde contra o câncer. Ela estava em Nova York, onde fazia um tratamento experimental. Em janeiro de 2023, um adenocarcinoma no intestino foi diagnosticado. A notícia da morte da artista foi confirmada por sua equipe.
Filha de Gilberto Gil e de Sandra Gadelha (a Drão), Preta Gil deixa o filho Francisco Gil, o Fran, integrante do grupo Gilsons, e a neta Sol de Maria. A família ainda não divulgou informações sobre o velório e o sepultamento.
Nascida Preta Maria Gadelha Gil Moreira em 8 de agosto de 1974, no Rio de Janeiro, a artista cresceu imersa na efervescência cultural da Tropicália, cercada por figuras como seu pai, sua tia Caetano Veloso e sua madrinha Gal Costa. Essa convivência moldou sua personalidade artística e sua visão de mundo desde cedo.
Desde o diagnóstico do câncer, Preta Gil manteve uma postura de total transparência com seu público, compartilhando detalhes de seu tratamento e suas vulnerabilidades em suas redes sociais. “Eu comento sobre tudo, se estou frágil ou triste, sou transparente. Como uma pessoa pública, posso dividir as minhas vulnerabilidades, não tenho porque fazer tipo na internet”, declarou a cantora à Folha, reafirmando sua conexão genuína com os fãs.
Seu percurso de saúde a levou a enfrentar sessões de quimioterapia e radioterapia, além de cirurgias. Em agosto do ano passado, Preta revelou que o quadro do câncer havia se expandido para quatro pontos, incluindo linfonodos na pelve, metástase no peritônio e um nódulo no uréter. Mesmo com os desafios do tratamento, Preta participou da turnê “Nós, A Gente”, que reuniu três gerações da família Gil, e da turnê de despedida de seu pai, “Tempo Rei”, momentos que ela descreveu como parte de seu processo de cura: “Estou enfraquecida, mas cada noite é uma dose de adrenalina, amor e afeto”, disse ela em entrevista à Folha.
A trajetória profissional de Preta Gil começou cedo, nos bastidores. Aos 16 anos, trabalhou na organização do Prêmio Sharp, e em seguida, na agência de publicidade DM9. Nos anos 90, atuou nas produtoras Conspiração e Dueto, onde dirigiu videoclipes para artistas como Ivete Sangalo e Ana Carolina, contribuindo para a popularização do formato no Brasil. Em 2017, fundou a Music2Mynd, agência pioneira no agenciamento de artistas e marketing de influência, impulsionando a presença digital de diversos nomes.
Sua carreira musical teve início em 2003 com o álbum “Prêt-À-Porter”, que trazia o hit “Sinais de Fogo”. O disco também ficou conhecido pela capa ousada, com Preta nua, desafiando padrões e provocando debates. “Vivia no mundo da fantasia da tropicália, achava que todo mundo era como a gente, cabeça aberta. Achava que ninguém era racista. Nunca pensei que as pessoas pudessem ser conservadoras ou julgar os outros pelo modo como vivem ou por como são”, escreveu em seu livro “Os Primeiros 50”, sobre a repercussão da capa. Outros trabalhos notáveis em sua discografia incluem “Preta” (2005), “Sou Como Sou” (2012) e “Todas as Cores” (2017), este último com parcerias memoráveis com Gal Costa, Pabllo Vittar e Marília Mendonça.
Preta Gil não se limitou à música. Também brilhou como atriz em novelas da Globo (“Agora É Que São Elas”, “Ti-Ti-Ti”) e Record (“Caminhos do Coração”, “Os Mutantes”), além de apresentar programas como “Caixa Preta” (Band) e “Vai e Vem” (GNT).
Uma de suas maiores paixões e conquistas foi o Bloco da Preta, que estreou no Carnaval de 2009 e se tornou um dos maiores e mais esperados do Rio de Janeiro, reunindo multidões. Em 2023, o bloco foi cancelado devido ao seu tratamento de saúde, mas em 2024, Preta retornou para celebrar os 15 anos do projeto sob o lema “Eu Venci”, um testemunho de sua resiliência.
Preta Gil sempre usou sua plataforma para levantar bandeiras sociais. Mulher preta, bissexual e fora dos padrões estéticos, ela enfrentou preconceitos desde a infância, usando sua visibilidade para combater o racismo, a gordofobia e a homofobia. “Eu costumo dizer que eu era a Preta no mundinho da Tropicália, achava que as pessoas eram que nem a minha família. O mundo não era assim”, afirmou certa vez a cantora à revista Forbes. Em sua autobiografia “Os Primeiros 50”, a cantora compartilhou abertamente sua experiência com a primeira namorada aos 15 anos, Adriana, e discutiu sua bissexualidade publicamente desde o início da carreira.
Em sua vida pessoal, Preta foi casada com o ator Otávio Müller, pai de seu único filho, Francisco Gil. Posteriormente, casou-se com Rafael Dragaud, o mergulhador Carlos Henrique Lima, e mais recentemente com Rodrigo Godoy, de quem se separou em 2023.
A cantora deixa um legado de autenticidade, inclusão e empoderamento, uma voz que ressoará na cultura brasileira por muitas gerações.