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Morre Jards Macalé, ‘anjo torto’ da MPB e parceiro de Caetano, aos 82 anos

Autor de ‘Vapor Barato’ e diretor de ‘Transa’, músico estava internado no Rio de Janeiro após cirurgia pulmonar

Jards Macalé em show no festival Doce Maravilha, no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro | 28.set.2025/Divulgação
Jards Macalé em show no festival Doce Maravilha, no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro | 28.set.2025/Divulgação

Jards Macalé, uma das figuras mais anárquicas e influentes da música brasileira, morreu nesta segunda-feira (17), aos 82 anos. O cantor, compositor e multiartista estava internado no hospital da Unimed, na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro, e não resistiu a complicações de uma cirurgia pulmonar realizada na última semana. Ele deixa sua mulher, a cineasta Rejane Zille.

A morte foi confirmada por sua equipe em um comunicado que ressaltou a vitalidade do artista até o fim. O texto informa que, mesmo após o procedimento, Macalé “chegou a acordar cantando ‘Meu Nome é Gal’, com toda a energia e bom humor que sempre teve”, e o descreve como um “mestre, professor e farol de liberdade”.

Um dos primeiros a se manifestar foi Caetano Veloso, que publicou uma homenagem emocionada relembrando a importância fundamental do amigo. “Sem Macalé não haveria ‘Transa’ [álbum de 1972]. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música. Antes de Bethânia imaginar que seria chamada para o ‘Opinião’, Alvaro Guimarães, diretor teatral baiano, me trouxe ao Rio para montar e mixar o curta para o qual eu tinha feito a trilha. Fui parar na casa de Macalé. E ele tocou violão. Me encantei. Ele tocou com Beta, lançou composições, chamei-o para Londres e: ‘Transa'”, publicou o baiano. “Na volta, ele e eu seguimos na música. Que a música siga mantendo a essência desse ipanemense amado”.

Sem Macalé não haveria ‘Transa’. Estou chorando porque ele morreu hoje. Foi meu primeiro amigo carioca da música
Caetano Veloso
sobre disco de 1972

Nascido Jards Anet da Silva no bairro da Tijuca, na zoan norte do Rio de Janeiro, em 3 de março de 1943, Macalé surgiu na cena musical nos anos 1960. Desde o início, destacou-se por uma postura de vanguarda, recusando rótulos e padrões comerciais. Sua estética híbrida, que fundia samba, rock, jazz e choro, o estabeleceu como o “anjo torto” da MPB, um artista que nunca se encaixou por completo em nenhum movimento, mas dialogou com todos.

Sua importância se tornou ainda mais evidente durante o exílio de Caetano Veloso e Gilberto Gil. No Brasil, ele se tornou um colaborador fundamental para Gal Costa, produzindo o disco “Legal” (1970) e compondo, ao lado do poeta Waly Salomão, clássicos imortalizados na voz da cantora, como “Mal Secreto” e o hino “Vapor Barato”.

Foi em 1971 que sua parceria com Caetano atingiu o ápice. Convocado para ir a Londres, Macalé assumiu a direção musical de “Transa”, um dos álbuns mais cultuados da música brasileira. É dele, por exemplo, o violão com a batida de reggae que abre “Nine Out of Ten”, sonoridade que ele aprendeu em Londres em uma troca com um músico jamaicano.

Jards Macalé em show no festival Doce Maravilha, no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro | 28.set.2025/Divulgação
Jards Macalé em show no festival Doce Maravilha, no Jockey Club Brasileiro, no Rio de Janeiro | 28.set.2025/Divulgação

De volta ao Brasil, em 1972, lançou sua obra-prima, o álbum homônimo “Jards Macalé”, que consolidou sua identidade artística com canções como “Hotel das Estrelas” e “Só Morto”.

Sua atuação, no entanto, nunca se limitou à música. Ao longo de mais de seis décadas de carreira, Macalé transitou pelo cinema, atuando em filmes de Nelson Pereira dos Santos como “O Amuleto de Ogum”, e compôs trilhas para clássicos como “Macunaíma”. Também colaborou com artistas plásticos como Lygia Clark e Hélio Oiticica, relação que foi tema do documentário “Macaléia”.

Nos últimos anos, o artista manteve-se politicamente ativo e produtivo. Em 2019, seu álbum “Besta Fera” foi indicado ao Grammy Latino de melhor álbum de MPB. Em 2022, respondeu ao cenário de divisão com o álbum “Coração Bifurcado”, um disco de amor como “gesto político”, que teve participações de Maria Bethânia e Ná Ozzetti.

Macalé também participou do show da posse do presidente Lula, em 2023. “Quando Lula subiu a rampa com a Janja e aquela vira-lata, eu me senti o próprio vira-lata”, disse ele na época.

Uma de suas últimas aparições nos palcos foi no fim de setembro, no festival Doce Maravilha, no Rio, onde apresentou as canções de seu disco de 1972.

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