O multi-instrumentista Hermeto Pascoal, um dos nomes mais geniais e inovadores da música brasileira, morreu neste sábado (13), aos 89 anos. A notícia foi confirmada em um comunicado publicado nas redes sociais do artista, assinado pela família e por sua equipe. A causa da morte não foi divulgada, mas o músico estava internado em um hospital no Rio de Janeiro.
“Com serenidade e amor, comunicamos que Hermeto Pascoal fez sua passagem para o plano espiritual, cercado pela família e por companheiros de música”, diz a publicação. “Como ele sempre nos ensinou, não deixemos a tristeza tomar conta: escutemos o vento, o canto dos pássaros, o copo d’água, a cachoeira, a música universal segue viva”.
O anúncio público da morte aconteceu de forma emocionante. A banda que acompanhava Hermeto, Nave Mãe, se apresentava no festival AcessaBH, em Belo Horizonte. O músico deveria estar no palco, mas teve a participação cancelada após ser hospitalizado. Mesmo assim, o grupo manteve o espetáculo e transmitiu parte do show por vídeo para o quarto do hospital.
Ao final da apresentação, o percussionista Fábio Pascoal, filho de Hermeto, comunicou a morte do pai ao público. Em seguida, a banda e a plateia declamaram um poema do músico, encerrando a homenagem com os versos: “A música segura o mundo enquanto a gente viver, é a maior fonte sem fim de alegria e prazer”.
O velório de Hermeto Pascoal será aberto ao público nesta segunda-feira (15), na arena cultural que leva seu nome, em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro. A cerimônia acontece das 14h às 21h, conforme anunciado pela família.
Nascido em 22 de junho de 1936, em Lagoa da Canoa, Alagoas, Hermeto Pascoal ficou conhecido como “o bruxo dos sons” por sua habilidade única de transformar qualquer objeto – de chaleiras a brinquedos – em instrumento musical. Sua obra, inclassificável em um único gênero, é marcada pela experimentação constante e pela fusão de ritmos.
Ainda menino, aprendeu a tocar a sanfona de oito baixos do pai e, aos 11 anos, já se apresentava em festas locais. Em 1950, mudou-se com a família para o Recife, onde começou a trabalhar em rádios e a ter contato com outros instrumentos, como o piano, aprofundando sua formação musical autodidata.
Sua trajetória ganhou projeção nacional na capital paulista, onde integrou o Quarteto Novo. Em 1967, acompanhou Edu Lobo na canção “Ponteio”, vencedora do 3º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, um marco em sua carreira.
A genialidade de Pascoal logo ultrapassou as fronteiras do Brasil. Após uma turnê com Geraldo Vandré, ele viajou para os Estados Unidos e colaborou com o lendário jazzista Miles Davis, consolidando seu prestígio internacional.
Discos como “A Música Livre de Hermeto Pascoal” (1973) e “Slaves Mass” (1977) registraram sua fase mais experimental, onde ele brincava com sons da natureza e do cotidiano, integrando tudo à sua música universal. Em 2024, aos 88 anos, Hermeto lançou o álbum “Pra Você, Ilza”, com composições dedicadas à sua falecida esposa. Ele deixa seis filhos, 13 netos e 10 bisnetos.