O samba brasileiro perdeu uma de suas vozes e compositores mais importantes. Arlindo Cruz morreu nesta sexta-feira (8), aos 66 anos, no Rio de Janeiro. O músico estava internado desde o dia 25 de maio no hospital Barra D’Or, na zona oeste da cidade, com um diagnóstico de pneumonia. A quadra do Império Serrano, no Rio de Janeiro, será o palco da despedida neste sábado (9). O velório do sambista terá uma cerimônia aberta ao público, além de um período reservado para a família e amigos se despedirem do artista.
Em uma nota divulgada nas redes sociais do artista, a família comunicou: “Com imenso pesar, a família e a equipe de Arlindo Cruz comunicam seu falecimento. Mais do que um artista, Arlindo foi um poeta do samba, um homem de fé, generosidade e alegria, que dedicou sua vida a levar música e amor a todos que cruzaram seu caminho”, inicia o anúncio. “Arlindo parte deixando um legado imenso para a cultura brasileira e um exemplo de força, humildade e paixão pela arte. Que sua música continue ecoando e inspirando as próximas gerações”, finaliza a nota.
A jornada de Arlindo Cruz nos últimos oito anos foi marcada por uma intensa luta pela vida. Em março de 2017, no auge de sua carreira, ele sofreu um AVC (acidente vascular cerebral) que o deixou com sequelas graves, impedindo-o de andar e falar, e o afastou definitivamente dos palcos.
Nascido em 14 de setembro de 1958, no Rio de Janeiro, Arlindo Domingos da Cruz Filho cresceu imerso em música. Aos 7 anos, ganhou o primeiro cavaquinho do pai. Na adolescência, se aprofundou no violão e na teoria musical, mas foi nas rodas de samba do bloco Cacique de Ramos, no final dos anos 1970, que encontrou sua verdadeira vocação.
Lá, se destacou como instrumentista e compositor, ao lado de nomes como Jorge Aragão e Beth Carvalho. Em 1981, assumiu o banjo de Almir Guineto no grupo Fundo de Quintal, onde permaneceu por 12 anos, tornando-se uma figura central na renovação do samba que ficou conhecida como “pagode”.
Após sair do grupo, formou uma dupla de sucesso com Sombrinha, com quem gravou cinco discos. No início dos anos 2000, enfrentou uma fase difícil devido ao vício em cocaína, que chegou a comprometer sua voz. No entanto, sua capacidade incansável de compor, com mais de 550 músicas gravadas ao longo da vida, foi fundamental para sua recuperação.
A grande virada veio em 2007 com o álbum “Sambista Perfeito”, cuja faixa de abertura, “Meu Lugar” (parceria com Mauro Diniz), se tornou um hino nacional e um retrato afetivo de seu bairro, Madureira. O sucesso o consolidou como um artista de ponta, com participações na TV Globo no programa “Esquenta!”, um “MTV ao Vivo” e shows lotados.
Arlindo Cruz deixou um legado de composições que se tornaram clássicos nas vozes de outros grandes artistas e em sua própria. Entre elas estão “O Show Tem que Continuar”, “Tá Perdoado” (gravada por Maria Rita), “Bagaço da Laranja” e “Camarão que Dorme a Onda Leva” (com Zeca Pagodinho), “Grande Erro” (Beth Carvalho) e “Novo Amor” (Alcione).
Sua ligação com o Carnaval também foi profunda. Compôs para sua escola de coração, o Império Serrano, em 12 carnavais, e também para agremiações como Grande Rio e Vila Isabel. No Carnaval de 2023, foi homenageado pelo Império Serrano e desfilou em um carro alegórico, acompanhado por uma equipe médica.
Nos últimos anos, sua esposa Babi e seus filhos, o cantor Arlindo Neto (Arlindinho) e Flora Cruz, compartilhavam nas redes sociais a rotina de cuidados e as pequenas evoluções do sambista, que chegou a passar por tratamentos com óleo de cannabis. Ele também deixa o filho Kauan Felipe, de outro relacionamento.