- Publicidade -publicidade

Morre Angela Ro Ro, ícone da MPB e voz de ‘Amor, Meu Grande Amor’, aos 75 anos

Cantora e compositora, conhecida por sua voz rouca e personalidade transgressora, estava internada no Rio de Janeiro

Cantora e compositora Angela Ro Ro | Alexandre Moreira/Divulgação
Cantora e compositora Angela Ro Ro | Alexandre Moreira/Divulgação

Uma das vozes mais singulares e potentes da música brasileira se calou. A cantora e compositora Angela Ro Ro morreu na manhã desta segunda-feira (8), aos 75 anos. A informação foi confirmada por seu advogado, Carlos Eduardo Lyrio. Angela estava internada desde junho no Hospital Silvestre, na zona sul do Rio de Janeiro, por uma infecção pulmonar e, segundo a nota, não resistiu a complicações decorrentes de uma nova infecção.

“Angela faleceu hoje pela manhã no Hospital Silvestre, onde estava internada por uma infecção contraída no próprio hospital. Sua única companheira, [com quem estava] há quatro anos, está absolutamente consternada com o falecimento”, escreveu o advogado. A causa da morte, conforme a certidão de óbito, foi infecção generalizada e pneumonia bacteriana.

Nascida Angela Maria Diniz Gonsalves em 5 de dezembro de 1949, no Rio de Janeiro, ela ganhou o apelido “Ro Ro” na infância, uma premonição da voz rouca que se tornaria sua marca registrada. Pianista clássica desde os cinco anos, encontrou em cantoras de personalidade forte como Elis Regina, Billie Holiday e Maysa suas grandes inspirações.

Sua carreira começou a tomar forma após uma temporada na Europa no início dos anos 1970. Em Londres, onde trabalhou como faxineira, conheceu Caetano Veloso, por indicação do cineasta Glauber Rocha, e participou do icônico álbum “Transa” (1972), tocando gaita na faixa “Nostalgia (That’s What Rock and Roll Is All About)”. Ela participou, inclusive, da comemoração dos 50 anos do disco ao lado do tropicalista em shows no Rio e em São Paulo, em novembro de 2023.

De volta ao Brasil, sua presença na cena noturna carioca era magnética. Em 1979, lançou seu aclamado álbum de estreia, “Angela Ro Ro”, um marco autoral com canções confessionais de rock e blues que, de certa forma, anteciparam a onda do rock nacional dos anos 80. O disco trazia faixas como “Gota de Sangue”, “Balada da Arrasada” e seu maior sucesso, “Amor, Meu Grande Amor”.

Composta em parceria com Ana Terra, a letra de “Amor, Meu Grande Amor” (“que tudo o que ofereço/ é meu calor, meu endereço”) se tornou um hino atemporal, regravado por artistas como Frejat e Barão Vermelho. O sucesso deste primeiro disco a colocou no panteão das grandes cantoras da MPB, ao lado de nomes como Simone.

A carreira de Angela Ro Ro foi tão intensa quanto sua vida pessoal. abertamente lésbica desde o início, em uma época de forte repressão, ela nunca se escondeu. Sua trajetória, no entanto, foi marcada por episódios turbulentos, incluindo o abuso de álcool e relatos de violência. Em 1984, relatou ter sido espancada por policiais, o que a fez perder a visão do olho direito e parte da audição, em atos que ela sempre atribuiu à homofobia.

Após uma sequência de seis álbuns nos anos 80, sua produção fonográfica se tornou mais esparsa. A artista enfrentou longos períodos de afastamento, e nos últimos anos, passou por dificuldades financeiras e de saúde, chegando a pedir ajuda nas redes sociais para custear tratamentos.

Apesar dos desafios, seu talento musical permaneceu intacto. No palco, ao piano, Angela era uma força da natureza, misturando suas canções intensas com relatos bem-humorados e sem pudor sobre sua vida, em um clima que remetia a um cabaré.

Antes de ser internada, a cantora colaborava com a produção de um documentário sobre sua vida, dirigido por Liliane Mutti. O filme, agora, servirá como um registro ainda mais importante de sua trajetória singular e transgressora.

- Publicidade -publicidade
Leia Mais
- Publicidade -publicidade
- Publicidade -publicidade