Para pá pa para pa pá… Mi corazón… Quem ouve essa repetição proferida por Manu Chao em seus shows dificilmente consegue ficar parado. Ou uma série de “Ioio ioiô ioiô io io io iô” com o músico franco-espanhol pulando no palco contagia até mesmo o segurança da casa. Foi assim na última das três apresentações que o cantor de raízes galegas fez no Kingston Club, no Rio de Janeiro, neste domingo (15). E o Portal Lineup viu de perto.
É um show empolgante e envolvente. Em pouco mais de duas horas no palco, o músico de 63 anos, ao lado do argentino MatuMati, pula, toca violão e canta a plenos pulmões com seus fãs, que os acompanham em todos os sucessos do repertório e em canções menos conhecidas do grande público, digamos assim. Um repertório que traz clássicos como “Me Gustas Tu”, “King of Bongo” e “Desaparecido”.
Em suas performances e letras, o artista, conhecido por sua vida simples e por defender causas humanitárias, repente que “Ninguém é ilegal”, por exemplo, ao cantar um de seus maiores hits, “Clandestino”. Nos versos da música de 1998 ele canta: “Perdido no coração da grande Babilônia/
Me chamam de ‘o clandestino’ por não ter documento”, dizem os versos em espanhol já traduzidos para o português.
A abertura foi também animada com Sebastianismos, baterista da Francisco, el Hombre, que ajudou a aquecer o público.
Este no Rio foi o sexto show de uma série de oito confirmados para este ano no Brasil. Já haviam sido realizados outros três em São Paulo. Nesta terça (17), Manu Chao segue para Belo Horizonte para dois eventos, com ingressos já esgotados, no Galpão 54 (20/12) e na Autêntica (22/12).
Nos bastidores em São Paulo, Manu Chao já havia dito ao Portal Lineup que prefere esse tipo de apresentação intimista. “Gosto deste formato, para até 2.000 pessoas”.
Sua volta ao país foi quase que repentina, anunciada na segunda quinzena de novembro. Dizem que é difícil falar com ele e quem ajuda a manejar sua agenda é sua companheira Cristina Clicom, com quem vive em Barcelona e mantém relação desde 2018.
A visita coincide de certa forma com o lançamento de seu novo álbum, “Viva Tu”, o primeiro com músicas inéditas em 17 anos, desde o “La Radiolina”, de 2007. O disco, lançado em setembro, é uma ode à vida e à solidariedade, refletindo o pluralismo cultural que marca a trajetória do artista.
O trabalho se conecta ainda mais com o público latino-americano, com destaque para a faixa “São Paulo Motoboy”. A música, lançada como single em julho, retrata a rotina dos entregadores da capital paulista, que enfrentam os desafios do trânsito caótico da cidade para garantir a entrega de mercadorias. O clipe, gravado em São Paulo, mostra uma entregadora “carregando injustiça nas costas”, como grafado em sua bolsa, enquanto Manu Chao canta em frente a um grafite de Marielle Franco.
Manu Chao, nascido em Paris em 1961 e filho de Ramón Chao (1935 – 2018), jornalista espanhol exilado pelo regime do ditador Francisco Franco (1892-1975), no poder da Espanha de 1936 a 1975, construiu uma carreira musical que transcende fronteiras. Sua música mescla influências do punk, rockabilly, reggae, música latina e outros ritmos, criando um estilo único e engajado. Inclusive é com uma camisa amarela de seu pai que Manu faz alguns de suas apresentações –caso deste último evento no Rio.
Um dos primeiros contatos de Manu Chao com a América Latina aconteceu em 1992, durante uma turnê com sua antiga banda Mano Negra, que durou até 1995. A experiência marcou profundamente o artista, que desde então tem nutrido uma forte ligação com a região. O álbum “Clandestino”, lançado em 1998, consolidou o sucesso dele na região, com canções em português, espanhol, francês e galego. Entre os destaques estão faixas como “Clandestino”, “Desaparecido”, “Welcome to Tijuana” e “Minha Galera”.
Sua relação com o Brasil se mostra ainda mais especial quando se observa que o cantor já dividiu palco com Gilberto Gil e teve a participação dos Paralamas do Sucesso em um de seus álbuns. No Carnaval deste ano, fez shows em São Paulo, no Recife e em Santa Catarina. E provavelmente seu laço mais forte com o país é seu filho Kirá, que inclusive completa 25 anos neste 4 de dezembro. O jovem cearense também é cantor e compositor, nascido em Fortaleza, mas morador de Brasília.
Portanto, “São Paulo Motoboy” é mais um capítulo dessa história, celebrando a vida e a resistência na metrópole brasileira.
Manu Chao ‘Ultra-Acústica’ no Brasil
BELO HORIZONTE
Quando: 20 de dezembro de 2025
Onde: Galpão 54 (r. Francisco Soucasseaux, 54, Lagoinha, Belo Horizonte, MG)
Quanto: esgotados
Mais informações: manuchao.net
Quando: 22 de dezembro de 2025
Onde: Autêntica (r. Álvares Maciel, 312, Santa Efigênia, Belo Horizonte, MG)
Quanto: esgotados
Mais informações: manuchao.net