Mano Brown, Criolo e Rael transformaram o Espaço Unimed, em São Paulo, em um verdadeiro templo do rap nacional no último sábado (22). O trio apresentou o show “Qual É o Crime?”, uma celebração ao gênero que reuniu clássicos de suas carreiras e homenagens a ícones da black music e do hip-hop brasileiro. Com um setlist extenso e participações especiais, a noite reafirmou a relevância e a potência do rap como expressão artística e social.
O repertório trouxe sucessos como “Não Existe Amor em SP”, “Subirusdoistiozin” e “Convoque Seu Buda”, de Criolo; “Envolvidão”, “O Hip-Hop É Foda” e “Tudo Vai Passar”, de Rael, além de Mano Brown encabeçando hinos do Racionais MC’s, como “Eu Sou 157”, “Jesus Chorou”, “Vida Loka – Parte 1”, “Vida Loka – Parte 2” e “Negro Drama”, esta última com a participação de Edi Rock. O trio também prestou homenagem a outros nomes do rap e da black music nacional, com “Onda”, de Cassiano, “A Fuga”, de Xis, e “O 5° Vigia”, de Ndee Naldinho.
O rapper Dexter foi outro convidado especial da noite e cantou “Oitavo Anjo”. Junto a eles, Lino Krizz, figura sempre presente nos eventos de Racionais MC’s.
A apresentação reforçou a conexão entre os três artistas, que compartilham uma trajetória de luta e resistência. “A gente tem essa coisa da semelhança da resiliência, da luta. Eu acho que esse show acaba sendo bem mais do que um show. É a celebração da nossa existência mesmo”, destacou Rael antes da apresentação. Performances semelhantes ocorreram em 2024, como no festival Doce Maravilha, no Rio de Janeiro, e também em Brasília.
O show celebrou a trajetória do trio, que tem em comum a origem na zona sul de São Paulo. “Esse show é muito emblemático. Nós três crescemos na zona sul de São Paulo, em bairros próximos: Grajaú, Jardim Iporanga e Capão Redondo. Sobrevivemos à falta de saneamento básico, violência policial e urbana de modo geral. Sobrevivemos através da nossa arte, fazendo rap”, diz Rael. Criolo ressaltou que “muitas pessoas descrevem o crime, que é sobreviver, estar vivo. Estar vivo para se fazer o testemunho da sua própria história, independetemente de estar no rap ou não. De onde a gente vem ter um testemunho e abrir um sorriso pode ser um crime também”.
Antes do show, nos bastidores, os músicos falaram sobre a “lei anti-Oruam”, projeto que busca proibir músicas com apologia ao crime ou às drogas em eventos para o público infantojuvenil. Criolo criticou a proposta: “O que é mais fácil para a sociedade: censurar uma letra que fala da realidade ou mudar a realidade da maioria das pessoas, que estão sofrendo neste momento?”.
Rael também se posicionou sobre a questão: “O rap sempre foi um movimento que olhou para esse lado social, de passar uma visão. Mas eu acho que sempre foi uma ferramenta de autoconhecimento, de se situar. Eu ouvindo Racionais, por exemplo, para mim foi como um resgate de identidade”. Para ele, “na verdade, estão querendo calar esse tipo de liberdade de expressão”.
O espetáculo “Qual É o Crime?” reafirmou a relevância do rap nacional, não apenas como manifestação artística, mas também como um espaço de reflexão e resistência. A força de Mano Brown, Criolo e Rael no palco mostrou que o gênero segue firme, impactando novas gerações e promovendo discussões essenciais sobre a realidade brasileira.
Fotos de Mano Brown, Rael e Criolo no show ‘Qual É o Crime?’, no Espaço Unimed



















