A noite desta terça-feira (30) no Allianz Parque, em São Paulo, foi palco para a genialidade complexa e combativa de Kendrick Lamar. Em sua primeira apresentação solo no Brasil, parte da “Grand National Tour”, o rapper californiano entregou um espetáculo de 90 minutos, dividido em quatro atos, que funcionou tanto como uma celebração de sua aclamada discografia quanto como um recado direto a seus rivais.
O show foi uma imersão audiovisual. Com o apoio de um corpo de balé e um vasto telão que exibia clipes e entrevistas, Lamar construiu uma narrativa que atravessa sua jornada artística. Cada música foi apresentada como parte de um todo coeso, mostrando que, para ele, o palco é um espaço de expressão que vai muito além de apenas cantar os sucessos.
O ano de 2025 tem sido de consagração para o artista de 38 anos. Ele foi o grande nome do Grammy, levando cinco prêmios das sete categorias em que concorria, incluindo os cobiçados troféus de gravação do ano e canção do ano por “Not Like Us”. Além disso, comandou um show histórico no intervalo do Super Bowl.
Essa energia vitoriosa se refletiu no palco. A recente e intensa disputa de Lamar com o rapper canadense Drake foi um dos fios condutores da noite. A performance de “Euphoria”, um dos ataques diretos ao rival, foi entregue com uma modulação de voz ameaçadora que preencheu o estádio.
O clímax da rivalidade veio com “Not Like Us”. Propositalmente deixada para o fim, a faixa premiada foi o momento de maior catarse. O público brasileiro abraçou a provocação e entoou em coro o grito de “Hey, Drake, vai tomar no c#”, transformando a arena em um caldeirão e mostrando que a briga do rap atravessou fronteiras.
Mas o show foi muito além da “treta”. Kendrick Lamar revisitou clássicos de álbuns como “Good Kid, M.A.A.D City” (2012) e “Damn.” (2017), com performances potentes de “Swimming Pools (Drank)”, “Money Trees”, “DNA.” e “Alright”. Em “Bitch, Don’t Kill My Vibe”, ele deixou o refrão quase que inteiramente para a voz do público.
A performance de Kendrick Lamar é um espetáculo de precisão. Acompanhado de seus dançarinos, o rapper ocupa o palco com uma presença intensa, jogando com a prosódia, usando diferentes tons de voz e interagindo com o público de forma calculada, mas eficaz.
A abertura da noite ficou por conta da dupla argentina Ca7riel & Paco Amoroso. Conhecidos por seu balanço moderno e por furar a bolha da música brasileira, eles aqueceram o público com sua mistura de trap, rock e eletrônica. A escolha da dupla para abrir a etapa latino-americana, segundo relatos de bastidores, foi do próprio Lamar.
A apresentação na capital paulista foi a única da “Grand National Tour” no Brasil. Antes de chegar aqui, a excursão passou pelo México e Colômbia, e depois segue para Argentina e Chile.
Apesar da importância do artista, o show não lotou completamente o estádio, com a arquibancada superior vazia. Ainda assim, o público presente na pista e na arquibancada inferior demonstrou grande entusiasmo e cantou junto do início ao fim.
Setlist de Kendrick Lamar em São Paulo (30.set.2025)
1º Ato
- Wacced Out Murals (intro)
- Squabble Up
- N95
- King Kunta
- Element.
- TV Off (part I)
2º Ato
- Euphoria
- Hey Now
- Reincarnated
- Humble.
- Backseat Freestyle
- Family Ties (Baby Keem cover)
- Swimming Pools (Drank)
- m.A.A.d city
- Alright
- Man at the Garden
3º Ato
- Dodger Blue
- Peekaboo
- Like That (Future & Metro Boomin cover)
- DNA.
- Good Credit (Playboi Carti cover)
- Count Me Out / Bitch, Don’t Kill My Vibe
- Love.
- Money Trees
- Poetic Justice
4º Ato
- Luther
- TV Off (part II)
- Not Like Us
- Gloria