O Best of Blues and Rock reservou uma de suas maiores surpresas para o encerramento de sua 12ª edição, no último domingo (15), no parque Ibirapuera. Em meio a um lineup recheado de lendas como Deep Purple e Alice Cooper, a cantora e compositora norte-americana Judith Hill, de 41 anos, fez sua estreia em palcos brasileiros e deixou uma excelente impressão.
Para muitos dos presentes, que aguardavam a apresentação dos septuagenários do Deep Purple, o nome de Judith Hill talvez não fosse familiar. No entanto, a artista de Los Angeles, com uma trajetória que inclui colaborações com gigantes como Michael Jackson (ela seria sua parceira de dueto na turnê “This Is It”) e Prince (que produziu seu primeiro álbum solo, “Back in Time”, de 2015), mostrou rapidamente a que veio.
Com o palco ainda em penumbra e minutos antes do horário previsto, Hill surpreendeu ao iniciar sua performance com versos de “Feeling Good”, clássico imortalizado por Nina Simone. A potência e o controle vocal demonstrados desde o primeiro momento capturaram a atenção da plateia que se acomodava na área externa do Auditório Ibirapuera.
Acompanhada por uma banda afiadíssima, que incluía seus pais –Robert “Pee Wee” Hill no baixo e Michiko Hill nos teclados– e o baterista John Staten, Judith Hill, também guitarrista, desfilou um repertório que transitou com elegância e energia pelo funk, soul, R&B e blues. Faixas de seu mais recente álbum, “Letters from a Black Widow” (2024), como a dançante “Runaway Train” e a intensa “Flame”, foram destaques.
A artista demonstrou não apenas uma técnica vocal que remete a grandes divas como Aretha Franklin, mas também uma presença de palco magnética e uma habilidade notável na guitarra. Empunhando uma Gibson SG, ela conduziu a banda por grooves contagiantes, como em “Gypsy Lover”, e momentos de blues visceral, como no encerramento com “Cry, Cry, Cry”, onde seus solos foram particularmente aplaudidos.
O show também teve espaço para momentos mais introspectivos e pessoais. A balada “Give Your Love to Someone Else”, apresentada ao piano, foi introduzida por uma mensagem motivacional sobre a jornada da vida. Já em “Dame de la Lumière”, Hill homenageou sua avó e sua mãe, creditando-as como inspirações de força.
Ao longo da apresentação, ficou evidente a influência de Prince em sua musicalidade e até em alguns de seus movimentos com a guitarra. O repertório ainda incluiu a balada “Burn It All” e a oitentista “You Got It Kid”, mostrando a versatilidade da artista em explorar diferentes nuances dentro da black music.
A estreia de Judith Hill no Brasil serviu como uma demonstração excelente de seu talento. Muitos que não a conheciam saíram impressionados com a força de sua voz, suas composições e sua entrega no palco.
O Best of Blues and Rock, em seus quatro dias de evento, também trouxe ao Ibirapuera nomes como Dave Matthews Band (com duas noites), Richard Ashcroft, Barão Vermelho, Black Pantera e Paula Lima cantando Rita Lee, reforçando a proposta de diversidade de estilos do festival.
Judith Hill, que também já foi backing vocal de artistas como Rod Stewart, Gregg Allman e Robbie Williams, e participou do documentário vencedor do Oscar “A Um Passo do Estrelato” (20 Feet from Stardom), mostrou em São Paulo que possui talento e carisma de sobra para brilhar como protagonista.
Resta agora a expectativa para que esta primeira e impactante apresentação no Brasil seja o início de uma relação duradoura com o público nacional, que teve a oportunidade de descobrir uma artista completa e dona de uma musicalidade singular.
Setlist Judith Hill no Best of Blues and Rock (15.jun.2025)
- Feeling Good (Intro – Nina Simone cover)
- I Can Only Love You by Fire
- Fire (Ohio Players cover)
- Gypsy Lover
- Runaway Train
- Burn It All
- Give Your Love to Someone Else
- Dame de la Lumière
- Flame
- You Got It Kid
- Cry, Cry, Cry



