A magia ancestral da música brasileira pairou sobre o Allianz Parque na noite desta sexta-feira (11), marcando a primeira das quatro apresentações que Gilberto Gil realizará em São Paulo com a turnê “Tempo Rei”. O ícone cultural do país teceu os primeiros acordes de sua despedida dos grandes palcos na capital paulista pouco depois das 20h30, envolvendo a plateia de 40 mil pessoas em uma experiência transcendente. Revestido de branco e dourado, emanando a serenidade que lhe é peculiar, o artista guiou o público por uma jornada musical que celebrou sua vasta obra.
A noite se descortinou com a metalinguística “Palco”, uma declaração de amor à simbiose entre o artista e sua audiência, prenunciando a intensidade das emoções que se seguiriam. A viagem sonora prosseguiu com clássicos atemporais como “Banda Um” e a canção que nomeia a turnê, “Tempo Rei”, cada nota ressoando com a história e a identidade da música brasileira.
A maestria na construção do repertório se revelou na forma como diferentes épocas e sentimentos se entrelaçaram. A alegria contagiante de “Eu Só Quero um Xodó” antecedeu a profundidade poética e política de “Cálice”, esta última enriquecida pela participação virtual de Chico Buarque, que narrou a gênese da canção como um grito contra a opressão da ditadura militar. Neste momento, a plateia se manifestou com força, ecoando o grito uníssono de “Sem anistia!”, carregando o peso da história e o desejo por justiça. A leveza do reggae em “Não Chore Mais” contrastou com a energia vibrante de “Realce”, transformando o espaço em um palco de celebração.
Os momentos de maior intimidade surgiram no bloco acústico, onde a voz e o violão de Gil desnudaram a alma em canções como “Se Eu Quiser Falar com Deus” e “Drão”, enquanto a espiral luminosa no palco adornava a música com imagens e palavras evocativas. O fim da apresentação elevou o espírito com a festa de “Expresso 2222”, “Andar com Fé”, “Emoriô” e “Aquele Abraço”, que precederam o bis com “Esperando na Janela” e “Toda Menina Baiana”.
A riqueza do repertório da turnê “Tempo Rei” reside também na forma como Gilberto Gil equilibra seus grandes sucessos com canções que representam diferentes fases e nuances de sua produção. Desde os primórdios do tropicalismo até suas incursões no reggae e no pop, cada música escolhida contribui para um panorama completo de sua influência na música brasileira. A inclusão de faixas como “Eu Vim da Bahia” e “Domingo no Parque” remete aos seus primeiros anos de carreira, enquanto “Refazenda” e “Refavela” celebram a efervescência criativa da década de 1970. Essa cuidadosa seleção garante que tanto os fãs de longa data quanto as novas gerações possam se conectar com a genialidade e a diversidade da obra de Gilberto Gil.
Ver essa foto no Instagram
Assim como nas etapas anteriores da turnê, a passagem por São Paulo reservou momentos especiais. Recordando os encontros emocionantes com Margareth Menezes e Russo Passapusso na estreia em Salvador, e com Marisa Monte, Lulu Santos, Anitta e Caetano Veloso no Rio de Janeiro, a noite paulistana presenteou o público com a participação singular de MC Hariel, que dividiu o palco com Gil em uma interpretação de “A Dança”, unindo diferentes universos musicais em uma celebração da diversidade cultural brasileira. A penúltima neta, Flora Gil, também entrou em cena para cantar “Refazenda” ao lado do avô.
A imponente espiral no palco, idealizada pela visão artística de Daniela Thomas e Rafael Dragaud, transcendeu a mera cenografia, tornando-se um símbolo visual da jornada atemporal da música de Gil. A cada acorde, a cada verso, a plateia presente sentia a profundidade daquele momento único.
O espetáculo pode ser encarado como ritual de passagem, uma celebração da história musical de um mestre que, com cada nota, reafirma sua imortalidade na cultura brasileira. A espiral de emoções girou intensamente, marcando a memória de todos os presentes com a beleza e a profundidade de sua arte, e com o clamor por um futuro mais justo.
“Tempo Rei”, concebida como um ciclo de despedida das grandes turnês, continua sua trajetória por 10 cidades e 19 shows pelo país. Após esta primeira noite em São Paulo, o Allianz Parque se prepara para receber novamente a magia do baiano neste sábado (12) e em mais duas datas futuras, nos dias 25 e 26 de abril. A caravana musical seguirá então para outras cidades importantes, incluindo passagens por Brasília (7/6), Belo Horizonte (14/6), Curitiba (5/7), Belém (9/8), Porto Alegre (6/9), Fortaleza (15/11) e Recife (22 e 23/11). As entradas estão à venda em diversas praças no site da Eventim.
Datas da turnê ‘Tempo Rei’, de Gilberto Gil, em 2025
-
- 15 de março – Salvador – Casa de Apostas Arena Fonte Nova
- 29 de março – Rio de Janeiro – Farmasi Arena (ESGOTADO)
- 30 de março – Rio de Janeiro – Farmasi Arena
- 5 de abril – Rio de Janeiro – Farmasi Arena
- 6 de abril – Rio de Janeiro – Farmasi Arena
- 11 de abril – São Paulo – Allianz Parque (ESGOTADO)
- 12 de abril – São Paulo – Allianz Parque (ESGOTADO)
- 25 de abril – São Paulo – Allianz Parque (DATA EXTRA)
- 26 de abril – São Paulo – Allianz Parque (ESGOTADO)
- 31 de maio – Rio de Janeiro – Marina da Glória (DATA EXTRA)
- 1 de junho – Rio de Janeiro – Marina da Glória (DATA EXTRA)
- 7 de junho – Brasília – Arena BRB Mané Garrincha
- 14 de junho – Belo Horizonte – Arena MRV
- 5 de julho – Curitiba – Ligga Arena
- 9 de agosto – Belém – Estádio Mangueirão
- 6 de setembro – Porto Alegre – Estádio Beira-Rio
- 15 de novembro – Fortaleza – Centro de Formação Olímpica
- 22 de novembro – Recife – Classic Hall (ESGOTADO)
- 23 de novembro – Recife – Classic Hall (DATA EXTRA)
Ver essa foto no Instagram
Ver essa foto no Instagram
Fotos dos shows de Gilberto Gil no Allianz Parque, em SP
