Leci Brandão recebeu homenagem durante a sexta edição do festival Imune (Instante da Música Negra), que levou shows ao BeFly Hall, em Belo Horizonte, na sexta-feira (15). Aos 80 anos, a sambista carioca subiu ao palco para levar ao público sua coletânea de hits e um repertório composto por clássicos do calibre de “Zé do Caroço”, e “Sonho Meu”.
A noite foi marcada por um encontro de gerações da música brasileira no evento que visa colocar em evidência a arte feita por artistas negros, indígenas, periféricos e LGBTQIA+. O expoente do soul nacional Sandra Sá convidou o rapper paulista Dexter e a jovem baiana Sued Nunes para participar de seu show. Passaram pela casa ainda Bia Nogueira, Cleópatra, Raphael Sales e Maíra Baldaia, e os novos nomes do funk e rap na cena mineira MC Xenon e SD9.
No mês da Consciência Negra, o Imune movimentou a capital mineira de quarta (13) a sábado (16), com uma programação com shows, debates, oficinas, rodadas de negócios e palestras. Neste ano, o Portal Lineup fez parceria de apoio de mídia com o evento. Com o tema “Solidariedade na Música como Estratégia para Adiar o Fim do Mundo”, o roteiro voltado para o mercado da música, fora dos shows, foi grátis e com acessibilidade em Libras.
A quinta (14) foi dedicada aos showcases da Sempre (Semana da Música Preta), iniciativa paralela ao festival, que contou com apresentações de Flip, Augusta Barna, Caetana, Realleza, Muse Maya, Mascucetas, DJ Roxie e DJ Scar. Já o sábado (16) o Imune voltou com agenda no AfroGalpão com apresentações da jovem rapper Mac Júlia, Diniboy, Cleopatra e Raphael Salles, entre outras atrações.
Entre as palestras, o público pôde assistir a falas da socióloga indígena Avelin Kambiuá (MG) e da artista indígena Brisa Flow (MG), que abordaram o modo de vida dos povos originários e de comunidades tradicionais. “São as vozes que a gente precisa reconhecer como detentoras de uma sabedoria profunda, porque são pessoas que conseguiram existir no mundo sem destruir, sem inviabilizar a vida na terra, pelo contrário. É uma perspectiva integrada, de vida integrada com a natureza, de se ver como natureza. Como plataforma de música e de política, a gente tinha que trazer essa discussão”, diz a organizadora do evento, a artista Bia Nogueira.
De acordo com ela, é preciso pensar a produção da música hoje como uma plataforma solidária e sustentável. “Diante de tantas questões, não tem mais como negar a urgência climática, nem negar para onde o capitalismo, predatório e excludente, nos levou. E, nesse sentido, precisamos nos guiar pela sabedoria dos povos originários. Como plataforma de música, também somos um espaço para reflexão, para pensar soluções alternativas, solidárias e afetivas para o ecossistema da música”, diz.
O Imune realizou sua primeira edição em 2018 e ao longo dos eventos seguintes em 2020, 2021, 2022 e 2023 a representatividade negra esteve presente nos palcos, bastidores, plateias, redes sociais e meios de comunicação. Chico César, Elza Soares, Djonga e Karol Conká são alguns dos artistas que já subiram ao palco do festival.
“O Imune é esse lugar de combate ao racismo que ultrapassa a questão das ‘cotas’ e que nos mostra a necessidade urgente de mudança na mentalidade dos responsáveis pelos grandes festivais”, afirma Bia. “Temos um projeto consistente, de continuidade, que permite aos artistas negros se envolverem em questões relacionadas aos negócios na área da música, aprendendo, se fortalecendo e abrindo cada vez mais espaços e frentes de trabalho”.