A chama do hard rock clássico brilhou intensamente no parque Ibirapuera na noite deste domingo (15), marcando o encerramento da 12ª edição do Best of Blues and Rock. A lendária banda britânica Deep Purple, com seus integrantes da formação clássica majoritariamente na casa dos 70 anos, subiu ao palco para uma demonstração de vigor e maestria musical que desafia o tempo, fechando o festival com um repertório que equilibrou hinos atemporais e material de seu mais recente álbum, “=1” (2024).
Desde sua primeira visita ao Brasil em 1991, o Deep Purple construiu uma relação sólida com o público nacional, retornando ao país em cerca de 15 excursões diferentes, totalizando mais de 70 shows. Essa frequência demonstra não apenas a paixão dos brasileiros pela banda, mas também a incansável atividade do grupo, que continua a gravar e excursionar pelo mundo. Ian Gillan, que se aproxima dos 80 anos, comanda os vocais com uma sabedoria impressionante. Ao seu lado, Ian Paice (próximo dos 77 anos) na bateria e Roger Glover (79 anos) no baixo –ambos da icônica formação do início dos anos 1970– formam uma solidez sonora precisa e potente.
Don Airey, tecladista desde 2002 e com 76 anos, assumiu a difícil tarefa de substituir Jon Lord, um dos fundadores e pilar sonoro da banda, morto em 2012. Airey não apenas honra o legado de Lord, mas adiciona seu próprio brilho e carisma, incluindo um charmoso trecho de “Aquarela do Brasil” em seu solo. O guitarrista Simon McBride, de 46 anos, o “novato” da formação, tem a responsabilidade de preencher o espaço deixado por lendas como Ritchie Blackmore e Steve Morse.
O show iniciou com a explosiva “Highway Star”, do álbum “Machine Head” (1972). O repertório seguiu com faixas do novo álbum “=1”, como “A Bit on the Side” e “Bleeding Obvious”, mostrando que a banda não vive apenas de nostalgia. Clássicos como “Hard Lovin’ Man” e “Into the Fire”, do seminal “In Rock” (1970), foram recebidos com entusiasmo. Apesar de não incluir todos os hinos esperados, como “Child in Time” ou “Perfect Strangers” nesta ocasião, a seleção mostrou um bom equilíbrio entre as fases da banda.
A seção intermediária da apresentação trouxe o groove inconfundível de “Lazy” e a intensidade de “When a Blind Man Cries”. Uma grata surpresa para o público brasileiro foi a inclusão de “Anya”, do álbum “The Battle Rages On…” (1993), canção que tem um apelo especial por aqui. A reta final, com a sequência de “Space Truckin'” (de “Machine Head”) e o riff imortal de “Smoke on the Water”, foi apoteótica. O bis com “Hush” (cover de Joe South, do álbum “Shades of Deep Purple” de 1968) e “Black Night” (single de 1970) selou a performance.

Antes da atração principal, a cantora norte-americana Judith Hill fez sua estreia no Brasil. Aos 41 anos, a artista, que já trabalhou com Michael Jackson e Prince, apresentou um show vibrante de soul, R&B e pop, com destaque para faixas de seu álbum “Letters from a Black Widow” e a balada “Cry, Cry, Cry”. Sua banda contava com a presença de seu pai no baixo.
Abrindo os trabalhos no palco principal neste domingo, a banda gaúcha Hurricanes, formada em 2016 em Santa Maria (RS), justificou seu apelido de “Black Crowes brasileiro”. O grupo entregou uma performance enérgica de seu blues rock com influências sulistas, apresentando material de seus álbuns “Hurricanes” e “Back to the Basement”.
Este último dia do festival coroou um evento que, em seu segundo fim de semana, também trouxe o espetáculo de Alice Cooper no sábado (14), além de Black Pantera e a celebração ao Charlie Brown Jr. com Marcão Britto e Thiago Castanho.
O primeiro fim de semana do Best of Blues and Rock, nos dias 7 e 8 de junho, já havia sido marcado pelas duas apresentações da Dave Matthews Band, que incluiu covers e a participação do gaitista Gabriel Grossi. Richard Ashcroft (ex-The Verve), Barão Vermelho e Paula Lima cantando Rita Lee também abrilhantaram o início do festival.
Setlist Deep Purple no Best of Blues and Rock (15.jun.2025)
- Highway Star
- A Bit on the Side
- Hard Lovin’ Man
- Into the Fire
- Solo de Guitarra (Simon McBride)
- Uncommon Man
- Lazy Sod
- Lazy (com introdução estendida de teclado)
- When a Blind Man Cries
- Anya
- Solo de Teclado (Don Airey, com trecho de “Aquarela do Brasil”)
- Bleeding Obvious
- Space Truckin’
- Smoke on the Water
Bis:
- Green Onions (cover de Booker T. & the M.G.’s)
- Hush (cover de Joe South)
- Black Night