Caetano Veloso, de 83 anos, celebrou a força popular e se disse “animado e emocionado” com a reação do público no ato contra a “PEC da Bandidagem”, no Rio de Janeiro, neste domingo (21), que reuniu nomes como Chico Buarque, 81 anos, Gilberto Gil, 83 anos, Djavan, 76 anos, e Paulinho da Viola, 82 anos. O cantor afirmou acreditar no poder da sociedade para conter retrocessos. “A população brasileira tem um conteúdo social que é um pouco desconhecido […] tem energia para resistir a essa tendência doentia de destruição da democracia”.
A manifestação do fim semana gerou comparações com a histórica Passeata dos Cem Mil, de 1968, contra a ditadura militar, da qual Caetano, Gil e Chico também participaram. “Depois que apareceu a minha indignação, eu procurei logo os meus colegas de geração, porque somos em conjunto uma figura histórica na força da música popular brasileira. Então estar perto de Gil, de Chico, Paulinho da Viola, mais próximo de novo de nós, é uma coisa espetacular”, disse o tropicalista à jornalista Andréia Sadi, na GloboNews, nesta segunda (22).
“Eu venho vendo o público gritar ‘sem anistia’ desde que eu estava fazendo o show com a Bethânia, em todas as capitais do Brasil”, afirmou o cantor, referindo-se aos eventos da tour com sua irmã “Caetano & Bethânia”, que começou em 2024 e seguiu até o início deste ano.

Paulinho da Viola, Djavan, Caetano Veloso, Chico Buarque e Gilberto Gil (esq. p/ dir.) em trio elétrico durante ato contra PEC da Blindagem, na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro | Michele Gomes – 21.set.2025/Mídia Ninja/Divulgação
Caetano revelou que a organização do ato, articulada por sua esposa, Paula Lavigne, foi muito rápida. Por isso, a programação musical acabou se concentrando nos “caras já respeitados da minha geração: Paulinho da Viola, Gil, Chico, Djavan”. O artista lamentou não ter tido tempo de convidar artistas de outros gêneros e regiões. “A turma mais jovem, eu adoraria poder fazer uma coisa que convidasse todos os trappers e rappers e os sertanejos […] mas foi muito rápido”, explicou.
Apesar disso, a nova geração marcou presença. O ato no Rio também contou com shows de Marina Sena e Os Garotin, e a participação de Pretinho da Serrinha, mostrando um diálogo entre diferentes momentos da música brasileira.
Caetano também falou sobre seu papel como artista engajado. “Eu sou um negócio de canção e entretenimento, mas tenho preocupação política e sempre que pude, manifestei. Nunca tive uma definição política restritiva, porque eu sou artista. Então eu muitas vezes pareço incoerente, mas é porque eu não entro em bloco definido”.
O principal alvo dos protestos é a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 3/2021, apelidada de “PEC da Bandidagem”. A proposta, já aprovada na Câmara, dificulta a investigação de parlamentares. Os atos também se posicionaram contra a anistia para os condenados pelos ataques de 8 de Janeiro.
O repertório da manifestação em Copacabana foi repleto de canções de protesto. Caetano abriu com “Podres Poderes” e “Alegria, Alegria”. Gil e Chico reviveram “Cálice”, Djavan cantou “Sina”, Paulinho da Viola (82 anos) apresentou “Foi um Rio que Passou em Minha Vida”, e Frejat lembrou o Rock in Rio de 1985 com “Pro Dia Nascer Feliz”.
O ato na capital fluminense foi o principal de uma mobilização nacional que aconteceu em mais de 30 cidades. Segundo estimativas do Cebrap/USP (Universidade de São Paulo), o público médio em Copacabana foi de 41,8 mil pessoas. Em São Paulo, na avenida Paulista, onde a estimativa foi de 42,4 mil pessoas, Emicida e Rashid cantaram Belchior. Em Salvador, a manifestação foi comandada por Daniela Mercury.
Os protestos foram convocados pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que reúnem movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), além de outros grupos ligados à esquerda.