Um encontro raro e potente da música popular brasileira marcou o protesto contra a chamada PEC da Blindagem neste domingo (21), na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Vestidos com as cores da bandeira do Brasil, Caetano Veloso (amarelo), Gilberto Gil (verde), Chico Buarque (azul) e Djavan (branco) lideraram um ato musical que reuniu milhares de pessoas na orla.
O principal alvo dos protestos é a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) nº 3/2021. Apelidada de “PEC da Bandidagem”, a proposta, já aprovada na Câmara e agora no Senado, dificulta a investigação de parlamentares, exigindo autorização prévia do Legislativo para a abertura de processos criminais, e restabelece o voto secreto para essas decisões. Os atos também se posicionaram contra a anistia para os condenados pelos ataques de 8 de Janeiro.
O evento no Rio, que contou ainda com as participações de Paulinho da Viola, Frejat, Lenine, Geraldo Azevedo, Maria Gadú e Marina Sena, teve um tom de festival e de celebração às canções de protesto. Caetano Veloso, um dos articuladores do encontro, foi o condutor de boa parte do ato, abrindo com clássicos como “Podres Poderes” e “Alegria, Alegria”.
A união dos ícones da MPB em um protesto de rua remeteu a momentos históricos, como a Passeata dos Cem Mil, em 1968. “Nós aqui já passamos por momentos parecidos, sempre em busca da autonomia cada vez maior do nosso povo. Esse é um momento que estamos fazendo de novo essa exigência”, afirmou Gilberto Gil no palco.
A tarde seguiu com uma sucessão de duetos simbólicos. Gil e Caetano reviveram a força de “Divino Maravilhoso”. Djavan se uniu a Caetano em “Linha do Equador” e também entregou seu sucesso “Sina”. O ápice da união dos mestres veio com Gil e Chico Buarque em “Cálice”, canção composta pela dupla em 1973, um dos períodos mais duros da ditadura militar.
“Como cantaram Caetano e Gil, temos que estar atentos e fortes”, disse Ivan Lins, em referência aos versos de “Divino Maravilhoso”, antes de apresentar “Novo Tempo”. Lenine também deixou seu recado antes de “Jack Soul Brasileiro”: “Estamos aqui não só para gritar ‘sem anistia, bandidagem não’, mas principalmente para reverberar nossa soberania”.
Frejat relembrou o Rock in Rio de 1985 e a esperança da Nova República ao cantar “Pro Dia Nascer Feliz”, parceria com Cazuza. “É uma música que em 85 a gente cantou no palco para celebrar a Nova República. Ela não deu tudo o que esperávamos, mas estamos melhores do que até então”, disse ele. Paulinho da Viola trouxe a sofisticação do samba com “Foi um Rio Que Passou em Minha Vida”, e Geraldo Azevedo emocionou com seus clássicos “Dia Branco” e “Bicho de Sete Cabeças”.
Na reta final da manifestação, todos os artistas se reuniram no palco para cantar juntos “Apesar de Você”, de Chico Buarque, e encerraram o ato em clima de festa com “É Hoje”, clássico da União da Ilha.
O ato no Rio foi o principal de uma mobilização nacional. Segundo estimativas do Monitor do Debate Político do Cebrap/USP (Universidade de São Paulo), o público médio em Copacabana foi de 41,8 mil pessoas. Em Salvador, a manifestação foi comandada por Daniela Mercury com o ator Wagner Moura. Em São Paulo, na avenida Paulista, onde o público estimado foi de 42,4 mil pessoas, Emicida e Rashid cantaram Belchior, e o protesto contou com Otto, Dexter, Marina Lima e Nando Reis.
Os atos foram convocados pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que reúnem movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), além de outros grupos ligados à esquerda.
Assista aos shows no ato contra ‘PEC da Bandidagem’ no Rio




