A banda Black Pantera entregou uma das apresentações mais impactantes do segundo dia do Knotfest Brasil, realizado neste domingo (20), no Allianz Parque, em São Paulo. Os mineiros assumiram com maestria a responsabilidade de encerrar a programação do Maggot Stage e aquecer o público para o momento mais aguardado da noite: o show do Slipknot.
Embora ainda relativamente desconhecido por parte do público, foi impressionante ver a presença significativa de fãs que já conheciam as músicas mais novas do álbum “Perpétuo”, lançado em maio, e outras mais antigas. Foi o empurrão para que as outras pessoas embarcassem junto e se entregassem ao peso do som e a postura de contestação do Black Pantera.
Antes de soltar os primeiros riffs, a banda abriu o show com o icônico discurso de introdução de Mano Brown em “A Vida É Desafio”, presente no DVD ao vivo “1000 Trutas, 1000 Tretas”, dos Racionais MC’s.”Tem que acreditar, desde cedo a mãe da gente fala assim: ‘filho, por você ser preto, você tem que ser duas vezes melhor'”, começa Brown na música. “Mas passados alguns anos eu pensei: ‘como fazer duas vezes melhor, se você está pelo menos cem vezes atrasado? Pela escravidão, pela história, pelo preconceito, pelos traumas, pelas psicósoas, por tudo que aconteceu.”, completa.
A escolha deste clássico do rap nacional foi certeira para elevar a tensão e preparar o público para a porrada “Provérbios” logo no começo da apresentação.
Em seguida, “Padrão É o Caralho” serviu para deixar claro que o público estava conquistado, com os provocativos versos “A coisa tá linda, a coisa tá preta” entoados em plena sintonia com a banda formada pelos irmãos Charles Gama (guitarra e vocal), Chaene da Gama (baixo e vocal), além de Rodrigo “Pancho” Augusto (bateria).
“Isso é uma vitória muito grande nossa e do rock nacional. Há dois anos, estávamos abrindo o Knotfest e hoje estamos aqui fechando o palco Maggot. É um absurdo isso”, disse Charles.
Durante os quase 40 minutos de apresentação, o Black Pantera disparou um petardo atrás do outro, embalando várias rodas de mosh. Um dos momentos mais marcantes veio com “Sem Anistia”, cuja letra é adaptada ao vivo para o refrão entoar “só as minas”. Antes da música, Charles convida as mulheres a dominarem as rodas de mosh, dando um toque de inclusão e deixando o show ainda mais divertido.
Outro momento interessante veio antes de “Fogo nos Racistas”, quando o baixista Chaene cantando os versos “Sensação, sensacional…Fogo nos racistas”, da música “Olho de Tigre” de Djonga. O público respondeu em peso, cantando junto e reforçando a mensagem antirracista da banda.
O ponto alto da apresentação veio com “Tradução”, interpretada por Chaene da Gama, enquanto o público iluminava o estádio com um mar de luzes de celulares. A letra, que retrata a realidade de inúmeras mulheres –em sua maioria negras– que trabalham como diaristas ou empregadas domésticas, emociona. Com versos poderosos, como “têm hora para chegar, mas não têm hora para sair”, a canção tocou fundo, reforçando a conexão entre a banda e o público.