Depois de sete anos sem excursionar pelo Brasil, a banda paulistana Rancore está em cartaz pelo país com a turnê “Relâmpago”. A maratona de shows já conta com 22 datas agendadas até 2 de junho e teve início nos dias 9 e 10 de março, com duas apresentações esgotadas —em Florianópolis, no Célula Showcase, e em Porto Alegre, no Agulha, respectivamente.
“Foi insano, muito intenso mesmo. Ambos os shows estavam lotados de pessoas de amor, de paixão e emoção”, conta ao Portal Lineup o vocalista do Rancore, Teco Martins.
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Uma das datas confirmadas neste retorno é o show no Lollapalooza Brasil 2024, que ocorre nos dias 22, 23 e 24 de março no autódromo de Interlagos, em São Paulo. A banda formada por Teco Martins (vocal), Candinho Uba (guitarra), Gustavo Teixeira (guitarra), Rodrigo Caggegi (baixo) e Ale Iafelice (bateria) sobe ao palco Budweiser na sexta-feira (22), às 12h45.
“O show é uma experiência bem diferente do disco. Eu acho mais legal. Ao vivo também é mais legal, né. Banda de rock tem que ser mais legal ao vivo do que no disco. Se não é fake, né?”, diz Teco Martins.
A vocalista da lendária banda punk paulistana Gritando HC, Eliane Souza, a Lê, vai fazer uma participação especial neste show do Rancore.
“O Gritando HC sempre foi uma referência de atitude pra nós e ter virado amigo pessoal da Lê e ter ela cantando conosco no Lolla será uma honra gigante”, diz Teco.
Ligado à cena hardcore e emo dos anos 2000, o Rancore iniciou suas atividades em 2001, em São Paulo, e entrou em hiato em 2014 depois de o guitarrista Candinho se mudar para Berlim, na Alemanha.
Nesse período, o grupo lançou três álbuns, o último deles pela gravadora Deckdisc, em 2011, chamado “Seiva”, que fez o quinteto aumentar a base de fãs no Brasil e ganhar reconhecimento da crítica.
Na última quarta-feira (13), Teco Martins conversou da casa dele, na zona rural de Indaiatuba, no interior de São Paulo, por videoconferência com a reportagem do Portal Lineup. Falou sobre a apresentação no Lolla, a volta aos shows pelo Brasil e disse que o grupo, 13 anos depois do lançamento de “Seiva”, considera gravar um novo álbum de músicas inéditas.
“A ideia é essa, né? Não é uma ciência exata. A ideia é a gente, ao longo dessa turnê, compor juntos. Até vai ter uns ensaios em breve, para ver se flui alguma coisa. Agora, é difícil prometer porque são sete anos sem tocar juntos”, afirma o artista.
Portal Lineup — Como foram os dois primeiros shows nesse retorno do Rancore a estrada pela turnê “Relâmpago”?
Teco Martins — Foi insano, cara, muito intenso mesmo. Ambos os shows estavam lotados de pessoas e de amor, de paixão e emoção. Estou me recuperando até agora e no fim de semana tem Curitiba com duas datas esgotadas também. O Rancore é muito intenso, né. É forte.
Vocês não faziam turnês desde 2017. Nesses sete anos vocês fizeram os dois shows do ano passado no Oxigênio Festival e outros dois no Hangar 110, todos na cidade de São Paulo. Como é estar de volta para uma turnê e não apenas para alguns shows pontuais?
É bem diferente porque os cinco shows foram em São Paulo. A gente foi headliner dos dois dias de Oxigênio, que eu acho que é o maior festival de hardcore atualmente, e paralelamente fizemos um show meio secreto, que esgotou os ingressos muito rapidamente na rua Augusta. De última hora, a gente conseguiu, antes do Candinho [guitarrista do Rancore] voltar para Berlim, marcar um show Hangar 110, que acabou sendo o “sold out” mais rápido da casa, o que foi muito louco. Aí a gente conseguiu fazer uma sessão extra por lá. Então, foram cinco shows, todos em São Paulo. Agora, muda um pouco a cena. É pegar avião, despachar equipamento, hotel… A turnê é muito emocionante porque você encontra pessoas de lugares diferentes e você vibra com as reações diferentes das pessoas, isso é muito interessante. A pluralidade e a riqueza cultural que tem no Brasil e poder vivenciar isso é incrível. Ao mesmo tempo, isso exige mais porque não é só fazer o show. Tem todo o lance do traslado, da logística e isso requer cuidar da saúde bem, véi. O bagulho é louco.
Eu tive várias oportunidades de receber cachês gigantes, trocando a formação da banda. Talvez o integrante que fosse substituído nem ficasse chateado, mas eu penso que o Rancore é um negócio tão verdadeiro e sincero que, se for pra acontecer, tem que rolar da maneira mais verdadeira possível, mesmo que eventualmente isso não aconteça
Teco Martins, sobre a volta do Rancore aos shows pelo Brasil
O Rancore entrou em hiato em 2014, com a ida do Candinho para a Alemanha, voltou para uma turnê nacional com todas as datas esgotadas, em 2017, e fez uma live em homenagem aos 10 anos do álbum “Seiva”, em 2021, durante a pandemia. Qual foi o combustível que motivou o retorno da banda desta vez?
Eu digo que foi uma coisa bem espiritual mesmo. Foi uma série de acontecimentos se sucedendo na vida dos cinco integrantes da formação clássica. Eu me mudei há 8 anos para a área rural. Eu planto comida, tenho uma vida bem bucólica, moro em estrada de terra, com água de poço e faço agrofloresta. Pra mim, o Rancore já tinha sido uma coisa muito legal, uma vivência muito legal. Eu não esperava ter esse reencontro, mas como se fosse um dominó, os pontos foram se ligando. Eu sou professor de kung fu e fiz um exame de faixa preta de segundo grau que durou 60 horas. Eu não posso contar o que aconteceu, mas eu tive algumas epifanias e desejei voltar com a banda. Eu não esperava que ia dar certo, mas tudo foi culminando. O
Candinho largou o emprego em Berlim, ele já estava lá havia 10 anos, o Gulão [guitarrista Gustavo Teixeira] quis voltar pra banda também. O combustível, primeiramente, acho que foi essa magia, mas o mais importante é a sinceridade e o amor que a gente sente um pelo outro e pela nossa música. A vida deu muitas voltas, alguns integrantes viraram pais, eu fui um deles. Então, tudo isso faz a gente reaprender a viver, olhar com outros olhos toda aquela história. Financeiramente, todos têm outros empregos. Então, esse retorno definitivamente não é um caça-níquel. Eu tive várias oportunidades de receber cachês gigantes, trocando a formação da banda. Talvez o integrante que fosse substituído nem ficasse chateado, mas eu penso que o Rancore é um negócio tão verdadeiro e sincero que, se for pra acontecer, tem que rolar da maneira mais verdadeira possível, mesmo que eventualmente isso não aconteça. Mas está acontecendo, cara, a gente está muito feliz, todos extremamente entusiasmados.
As conversas sobre a realização desta turnê pelo Brasil começaram no ano passado, durante o Oxigênio Festival, em agosto? Como a Balaclava Records entrou na jogada?
Na verdade, durante os shows do Oxigênio, não, mas depois que a gente esgotou os dois shows do Hangar 110 em um minuto, uma ou duas semanas depois, sim. A real é que nossa conexão com o público nunca foi tão boa. Parece que nós estamos encontrando algo que a gente fez, mas com todas as vivências que nós tivemos separadamente. Somos amigos de escola, a gente começou isso tudo na oitava série, há mais de 20 anos. O Rancore não terminou por causa de brigas, isso nunca aconteceu. Tinham interesses diferentes, vontades de viver outras coisas, mas nossa relação sempre foi muito divertida e sincera. E não é só essa coisa estereotipada da diversão do rock. É uma conexão de amor profundo, de entender a irmandade de um pelo outro, a importância e o significado que cada um de nós tem nas nossas vidas. Depois dos shows no Hangar, a gente fez uma reunião na casa do Gulão e pensamos ‘por que a gente não faz uma turnê e vê o que acontece?’. Isso foi mais ou menos no começo de setembro do ano passado, o Candinho tinha umas coisas pessoais pra resolver em Berlim ainda. E aí apareceu o Fernando Dotta, da Balaclava, que já tinha trabalhado com o Gustavo no projeto Nuvem Music. Eles são amigos pessoais, então, a gente começou a conversar, ficar de namorico. Eu sempre fui muito cuidadoso com essa parte do Rancore, eu sempre cuidei da produção de shows, empresariamento, etc, mas não dá mais pra eu fazer isso porque eu tenho outros trabalhos, o meu filho, outros projetos musicais, as aulas de kung fu, a agrofloresta, as vendas para restaurantes… Então, a correria está muito forte, mas eu não passaria essas tarefas de algo que é tão valioso pra nós para qualquer um. Conversamos com o Dotta, depois o Eduardo Farah, os dois líderes da Balaclava, e agora estamos aí. A turnê agora só começou. Por enquanto, está tudo bem. Vamos ver como vai ser, mas eu acho que tem tudo pra dar certo. Na verdade, a Balaclava trabalha com o Terno Rei também, eles são amigos nossos de longa data. O Lobas, baterista deles, era da minha classe no terceiro colegial. A gente vê que eles fazem um trabalho muito legal com o Terno Rei e a curadoria deles é bem rigorosa. Muita banda quer entrar na Balaclava, mas não entra porque eles querem entregar o melhor trabalho possível. Se começar a entrar muita gente, eles vão perder a capacidade de entregar essa excelência. Me pareceu muito genuína e sincera a vontade deles trabalharem com o Rancore, de acreditar na identidade artística da banda. Nós começamos de namorico, agora estamos namorando, vamos ver se a gente casa. Tomara que sim.
Desde o hiato, em 2014, cada um de nós teve vivências diferentes, cada um escutando coisas diferentes, mas ainda temos bastante em comum em termos de preferências musicais. O desafio vai ser encontrar essa intersecção musical, mas nós vamos trabalhar pra isso. A ideia é essa, mas não posso prometer nada
Teco Martins, sobre a possibilidade do Rancore gravar o disco sucessor de ‘Seiva’ lançado em 2011
Casar com o lançamento de um disco novo?
A ideia é essa, né? Não é uma ciência exata. A ideia é a gente, ao longo desta turnê, compor juntos. Até vão ter uns ensaios em breve para ver se flui alguma coisa. Agora, é difícil prometer porque são sete anos sem tocar juntos e 10 anos sem compor juntos, desde o hiato em 2014. Isso ainda não aconteceu, a gente vai começar a testar. Pode ser que flua bem, pode ser que não. Nem estamos fazendo muito alarde. Tem uma série de fatores que podem culminar em algo bom ou em algo que não flua. Desde 2014, cada um de nós teve vivências diferentes, cada um escutando coisas diferentes, mas ainda temos bastante em comum em termos de preferências musicais. O desafio vai ser encontrar essa intersecção musical, mas nós vamos trabalhar pra isso. A ideia é essa, mas não posso prometer nada.
A história do Rancore já conta com esse contexto de “retornos” do grupo. Tem a hashtag #VoltaRancore, que já é praticamente um folclore entre os fãs desde o hiato em 2014… Mas eu queria aproveitar pra perguntar se o revival emo também teve impacto para essa volta?
Eu não sei se o revival emo tenha tanto a ver com a nossa volta. Por mais que o Rancore tenha vindo desta mesma cena. A gente cresceu junto com NX Zero, Gloria, Fresno, Dance of Days, tocando nas mesmas casas de shows, mas nossa banda nunca foi muito emo assim, nós nunca fomos um ícone emo. A gente sempre andou um pouco à margem disso, mas andando junto. A gente tocava com essas bandas que citei, como também com Gritando HC, Blind Pigs, Cólera, Ratos de Porão, Krisiun, então, meio que a gente ficava nos dois lados. Eu acho que dialoga [com o emo], mas não acho que tenha tanto a ver com o revival emo. Sobre a hashtag #voltarancore, ela virou um meme na época que a banda parou porque o pessoal que gostava era muito fanático. Nós nunca fomos uma banda de um público gigantesco, mas sempre foi muito fiel, a ponto de tatuar o símbolo no rosto, fechar as costas, tatuar pescoço, a mão. Então, é um pessoal que se identifica demais e eles começaram esse movimento da hashtag, o que ajudou a ampliar a mensagem da banda. Então, quando nós paramos em 2014, quando nós fizemos uma tour de reencontro em 2017, foi muito maior que a turnê de despedida. Então, parece que triplicou. Agora, alguns anos depois, está acontecendo a mesma coisa. Nós fechamos essas casas de show em Floripa, Porto Alegre, pensando se seria possível encher as casas e um mês e meio antes já tava com ingressos esgotados. Em Curitiba, tivemos que abrir data extra. Então o #VoltaRancore virou um meme mesmo, um lance engraçado de falar.
Eu entendo que todo esse contexto da relação que vocês têm com os fãs, de fato, colocam o Rancore em um espaço diferente desse contexto do revival emo, mas o que você pensa deste momento como um todo?
Por um lado, é legal. Por outro, eu acho que as pessoas parecem ficar presas ao passado. Eu percebo isso no próprio público do Rancore. Quando lançamos o ‘Yoga, Stress e Cafeína’, em 2006, os shows não eram tão cheios. Depois veio o ‘Liberta’, e o pessoal ficava pedindo música do disco anterior. Com o ‘Seiva’, a mesma coisa. Aí quando acaba a banda, fica essa coisa do #VoltaRancore. Então, eu nem sei se a gente lançar um material novo, eu nem sei se isso vai interessar tanto as pessoas. Isso é uma coisa que eu noto assim, não só nessa cena emo, mas em várias cenas. Algumas vezes, bandas e artistas são mais valorizados anos depois de quando eles realmente fizeram a obra. De uma certa maneira, funciona porque o público fica pensando que pode não ter outra chance de ver aquele show. Eu acho que é válido, mas é importante as pessoas ouvirem coisas novas. Eu já li que as pessoas tendem a ficar presas em artistas que ouviram até os 25 anos. Eu acho isso um pouco perigoso, essa estagnação, de ter algumas memórias associadas a momentos que teve com aquela banda, com aquela música. Eu até falo numa música do Rancore: ‘quem se prende ao passado, morre. Eu aprecio o movimento’. Então, claro que é legal valorizar, ter um reencontro com aquele momento da sua vida, com aquelas pessoas, com aquelas passagens. Mas acho que é preciso se atentar se ficar preso a isso não está deixando as pessoas estagnadas, para conhecer coisas novas e viver outras experiências.
Quero insistir no revival emo porque vocês fizeram parte desse momento em que o estilo esteve em muita evidência, nos anos 2000. Na minha opinião, se eu fosse encaixar o Rancore nas caixas de estilos musicais, eu definiria a banda como rock/post-hardcore/emo. O que você pensa?
Eu não sei se a gente é tão emo assim, eu diria mais hardcore. Nós nascemos no hardcore e no punk. Pouco a pouco, a gente acrescentou elementos de post-hardcore e no último disco o lance ficou mais psicodélico. Eu gosto de muitas coisas emo, eu me identifico, mas nunca ouvi muito. Eu acho que é mais uma coincidência de estarmos na mesma hora e mesmo lugar, fazer um som pesado e ser amigo dessas bandas.
Desde o primeiro álbum, muitas das letras do Rancore já fugiam bastante da estética ‘sofrência’ do emo. Desde o princípio, tem elementos de elevação espiritual que aparecem mais em cada um dos álbuns subsequentes, que deixam as composições ainda mais abertas e universais, o que deixa a interpretação das letras ainda mais livres. Mas tem algumas músicas, como ‘Quarto Escuro’, do segundo álbum, de 2008, que começa com você esgoelando o seguinte verso: ‘Ando insatisfeito com a maldita farpa, alojada em meu peito cada vez mais inflamada. Ando muito alterado, sem saber o que fazer, fumando baseado atrás do outro sem sentir prazer’. Na minha opinião, essa é uma das principais músicas ‘emo’ já compostas no Brasil. O que você pensa?
É muito legal a sua interpretação, é bem interessante. Isso é uma coisa que a gente conversou nesse reencontro sobre o quanto o público é variado. Tem muito evangélico que gosta do show, tem umbandista, tem emo, tem punk, tem milionário, tem gente da quebrada mais quebrada possível que gosta do Rancore. Isso tudo é muito legal, sentir que você é capaz de unir as pessoas naquele momento do show. É a coisa que mais me motiva. Não posso falar pelos outros da banda. Mas para eu sair aqui da minha roça, não é pela grana. Eu tenho filho, minha esposa. É uma turnê puxada, irmão. Mas quando eu vejo a alegria das pessoas depois do show, emocionadas, felizes, se abraçando. Essa é minha gasolina, acima de tudo: ver o quanto essa banda é capaz de fazer as pessoas felizes. Isso definitivamente não tem preço, é muito louco.
Levando em conta que você viu muito de perto toda a explosão do emo na mídia e também todo o bullying que algumas das bandas, como NX Zero e Fresno, sofreram. Você imaginava que o estilo iria ter esse momento de retorno ao mainstream?
Sim, eu imaginava isso. Quando eu comecei a ouvir rock, eu peguei o retorno do Capital Inicial e do Ira!, no fim dos anos 1990, começo dos anos 2000, que gravaram os acústicos da MTV e voltaram muito mais fortes. Acho que isso é normal. Daqui 20 anos esses artistas de trap vão estar lotando estádio ainda mais do que já estão. Os próprios fãs de trap que são hoje mais jovens e adolescentes, às vezes, não têm grana pra ficar indo em show agora. Daqui 20 anos vai ter e talvez não tenha mais tempo pra ficar procurando banda nova porque vai ter família etc. Então, é um ciclo que se repete. Agora, é o momento do emo.
Vamos falar um pouco de Lollapalooza Brasil, onde vocês serão os responsáveis por abrir os trabalhos do palco Budweiser, na sexta-feira (22), às 12h45. Como foi receber o convite para tocar no festival?
Isso aí já vem da parte da Balaclava. Esse é o tipo de coisa que a Balaclava faz. Eles já tinham o contato, a banda era interessante também para o Lollapalooza. Eles sabem do valor da banda. Para nós, é legal, uma experiência bem diferente. Acho que nunca toquei num palco tão grande. Mas, ao mesmo tempo, algumas pessoas perguntam. ‘Nossa, você está ansioso? Como é que tá?’. Cara, pra mim, é a mesma ideia de subir em qualquer palco e fazer o melhor possível. Eu não vou subir no palco do Lollapalooza, diferente do que eu subi em Florianópolis, Porto Alegre e vou subir em Curitiba neste fim de semana, e que eu subi há 10 ou 15 anos para 10 pessoas verem a banda. Eu estou aqui pra dar minha alma, dar minha vida, dar 100, 110%. Cada pessoa é valiosa demais e, às vezes, a minha única chance de conectar com essa pessoa na minha vida é agora. Então, eu tenho que aproveitar. Para os outros integrantes da banda, acho que o sentimento é o mesmo. A ideia é ir lá, fazer o nosso melhor em cada acorde, em cada segundo e tentar nos divertir. Porque, assim, a diversão não vem em primeiro lugar. Por mais que seja importante se divertir pra passar uma coisa boa, existe uma doação forte no show do Rancore. O nosso show exige muito, é físico, é tipo uma luta. Quando eu estou me preparando para a turnê do Rancore, eu corro na escadaria. Sabe essas escadarias que tem no meio da cidade? Com 80 degraus? Eu vou no sol do meio-dia e faço explosão de 100 vezes subindo. Se não, eu não aguento. Os shows são muito puxados, muito puxados. Então, tem toda essa explosão e a gente tenta se divertir depois. Às vezes acontecem os dois. A ideia é essa, irmão. Eu acho que [o Lollapalooza] é uma experiência nova, eu não sei o que me espera. Eu vou ao autódromo dar uma entrevista pra ver como é que é. Mas a ideia é essa, botar pra fuder, como a gente sempre bota. Fazer nosso melhor, daquele jeito.
A Lê, do Gritando HC, vai participar do show do Lolla, né? Por que vocês a convidaram? O que significa o Gritando HC pra você e para o Rancore?
No nosso primeiro show, em 2002, tocamos um cover de Gritando HC. Eles sempre foram uma referência de atitude pra nós e ter virado amigo pessoal da Lê e tê-la cantando conosco é uma honra gigante. Para nós, é muito valioso sermos tão bem aceitos dentro do movimento punk. Tocamos com o Cólera em um dos últimos shows do Redson [morto em 2011] e foi incrível.
Você curtiu que o show vai ser no mesmo dia do Blink-182 e Offspring? Você gosta do som deles, já gostou?
A gente já tocou com o Offspring, no [antigo] Credicard Hall, em 2013. Olha, o Gulão e o Alê gostam mais. Eles gostam de Blink. Para eles, foi um negócio bem importante. Eu tive uma fase de ouvir Blink também. Eu acho legal, tem relação com a gente, mas sem querer parecer blasé, eu me identifico mais com o Arcade Fire que também vai tocar no mesmo dia. Eu acho o show deles muito bom. Mas claro que é legal, porra, lógico. Acho que muita gente gostaria de estar lá. É uma banda que marcou esse cenário punk, hardcore, pop punk, e a gente ter sido uma banda brasileira escolhida para tocar lá, de certa forma, é um privilégio. Vamos honrar todas as bandas que gostariam de tocar lá. Eu não sou tão fã de Blink e Offspring, não escuto no meu dia a dia, mas o Gulão e o Alê gostam pra caralho, eles estão pirando.
Na parte final da entrevista por videoconferência, Teco Martins nota que meu telefone tem o DDD 61, de Brasília, o que fez ele falar sobre os shows que a banda tem marcados na capital federal e em Goiânia.
Poxa, o show de Brasília vai ser muito foda, cara. Brasília e Goiânia. Eu vou falar uma coisa que nem sei se pega bem falar. Eu pessoalmente estou mais ansioso pro Goiânia Noise Festival do que pro Lolla. A gente nunca tocou em Goiânia e nós sabemos lá que tem muita gente que gosta muito do Rancore. Eu toquei solo várias vezes, sempre foi muito foda, mas o Rancore nunca tocou. A gente vai tocar no festival em um dia que vai ser de graça, uma banda antes do Boogarins. Eu acho que tem tudo pra ser histórico, a galera de Goiânia é muito insana, velho. Eu colava lá pra fazer show com voz e violão e a galera fazia mosh, é muito foda. Esse show eu acho que vai ser muito louco. Brasília também vai ser muito foda com o Terno Rei. Essa turnê está linda de ver.
O show é uma experiência bem diferente do disco. Eu acho mais legal. Banda de rock tem que ser mais legal ao vivo do que no disco. Se não é fake, né?
Teco Martins
Eu nunca vi show do Rancore, como é?
Você vai pirar, véi. Modéstia à parte, você vai pirar porque o show é muito diferente do disco. Eu não gosto muito dos discos do Rancore. Eu não gosto da maneira que foi gravado, mixado. Hoje em dia eu acho que não representa a banda. Estou falando por mim, sou autocrítico pra caralho, como artista tem que ser. Mas o show é foda, mano. Na moral. O ‘Seiva’ foi eleito o melhor disco do ano no [site] Tenho Mais Discos que Amigos, ele foi muito bem aceito pela crítica, até por parte da crítica internacional. Mas é que eu conhecendo o Rancore, eu deixaria ele um pouco mais rock ’n’ roll. Eu acho que ficou muito limpinho em relação ao que a banda realmente é ao vivo. Você vai entender isso no dia que você assistir ao nosso show. Realmente, o show é uma experiência bem diferente do disco. Eu acho mais legal. Ao vivo também é mais legal, né. Banda de rock tem que ser mais legal ao vivo do que no disco. Se não é fake, né?
Eu vi vídeos dos shows no Hangar 110, no ano passado, do público pulando abraçado como se fosse uma torcida organizada de futebol na música “Mãe”. Visualmente, me chamou muita atenção. Como surgiu isso?
É um dos momentos mais divertidos do show, foi algo bem espontâneo e a gente fica muito feliz em cima do palco. Principalmente, eu e Candinho que adoramos futebol. Ele é fanático pelo Flamengo e eu pelo Corinthians.
Datas da turnê ‘Relâmpago’
9/3 – Florianópolis (SC)
10/3 – Porto Alegre (RS)
16/3 – Curitiba (PR)
17/3 – Curitiba (PR)
22/3 – São Paulo | Lollapalooza Brasil 2024
23/3 – Londrina (PR)
24/3 – Jacarezinho (PR)
7/4 – Rio de Janeiro (RJ)
12/4 – Brasília (DF)
14/4 – Goiânia | Goiânia Noise Festival (GO)
20/4 – Santos (SP)
21/4 – Campinas (SP)
27/4 – Sorocaba (SP)
28/4 – ABC (SP)
10/5 – Fortaleza (CE)
11/5 – João Pessoa (PB)
12/5 – Recife (PE)
16/5 – Aracaju (SE)
17/5 – Salvador (BA)
18/5 – Vila Velha (ES)
1/6 – Ribeirão Preto (SP)
2/6 – Belo Horizonte (MG)
Lollapalooza 2024
Quando: 22, 23 e 24 de março (sexta-feira, sábado e domingo)
Onde: autódromo de Interlagos (av. Senador Teotônio Vilela, 261, Interlagos, zona sul, São Paulo, SP)
Quanto: R$ 2.178 a R$ 5.190 (pacote para os três dias), R$ 630 a 1.260 (pacote para dois dias) e R$ 495 a R$ 2.240 (ingresso individual)
Mais informações: lollapaloozabr.com