O palco do Best of Blues and Rock transformou-se em um grande teatro de horror e rock and roll na noite deste sábado (14), no parque Ibirapuera, em São Paulo. O “pai do shock rock”, aos 77 anos, provou que sua majestade sombria continua intacta, entregando uma performance hipnotizante que encerrou o terceiro dia do festival com uma verdadeira aula de entretenimento e atitude.
Há mais de meio século, em abril de 1974, Vincent Furnier, o homem por trás do personagem que batizou sua banda original, realizou um dos primeiros grandes shows internacionais no Brasil, um marco para a época. Cinquenta e um anos depois, a energia e a capacidade de chocar e encantar permanecem, e o espetáculo no Ibirapuera começou de forma impactante. Uma grande cortina estampada como a capa de um jornal anunciava que “Alice Cooper foi banido no Brasil”, com sua clássica maquiagem nos olhos estampada na foto e a manchete declarando seu julgamento por “feitos contra a humanidade”.
Enquanto uma montagem nos telões laterais exibia páginas de revistas e jornais de diferentes épocas, sempre horrorizadas com o artista, a banda cercava o tecido. Um holofote iluminou a cortina por trás, revelando a silhueta do artista de fraque e cartola. Um locutor então perguntou como ele se declarava em relação aos crimes, ao que ele respondeu “Culpado!”, rasgando o tecido com uma espada para saudar o público com “Lock Me Up” e “Welcome to the Show”.
A partir dali, a noite foi uma sucessão de clássicos e encenações que são a assinatura do artista norte-americano. Conduzindo a plateia por seus pesadelos musicais com uma desenvoltura impressionante, ele revisitou sucessos como “No More Mr. Nice Guy”, “I’m Eighteen”, “Under My Wheels”, “Bed of Nails”, “Billion Dollar Babies” e “Be My Lover”. A cada música, ou bloco delas, Cooper trocava de figurino ou empunhava um novo objeto cênico –fosse um cetro, uma muleta ou a já citada espada– regendo a plateia enquanto caminhava pelo palco.
A teatralidade, pilar fundamental de seus shows, esteve presente em diversos momentos icônicos. Em “He’s Back (The Man Behind the Mask)”, surgiu no palco um personagem caracterizado como Jason Voorhees, o implacável protagonista da série de filmes “Sexta-Feira 13”. Outras cenas marcantes incluíram a simulação de sua decapitação em uma guilhotina cenográfica durante a dramática “Ballad of Dwight Fry”, com sua cabeça sendo exibida ao público por uma atriz na sequência de “I Love the Dead” (esta última apenas com a banda). Um boneco gigante e monstruoso também apareceu no bis, durante “Feed My Frankenstein”, para delírio dos fãs.

A banda que acompanha o astro é um show à parte, demonstrando virtuosismo e entrosamento. A guitarrista Nita Strauss, ex-integrante da banda cover The Iron Maidens, teve seus momentos de brilho solo, assim como o baterista Glen Sobel, que executou um solo expressivo com um trecho de “Black Juju”. Os guitarristas Ryan Roxie e Tommy Henriksen, e o baixista Chuck Garric completaram o time com precisão e energia, comportando-se como verdadeiros servos da realeza macabra de seu líder.
Um dos pontos altos da apresentação foi a execução do hino “School’s Out”, que o público cantou em uníssono e que foi inteligentemente emendada com um trecho de “Another Brick in the Wall, Part 2”, do Pink Floyd. Foi neste momento que o cantor apresentou seus competentes músicos, recebendo aplausos calorosos. A performance de “Poison”, outro grande sucesso, também levantou a plateia.
Antes do headliner, o palco principal recebeu o potente trio mineiro Black Pantera. A banda, que vem ganhando cada vez mais destaque na cena nacional e internacional, fez sua estreia no festival com um show carregado de energia, representatividade e peso. Formada pelos irmãos Charles (guitarra e vocal) e Chaene da Gama (baixo) e Rodrigo Pancho (bateria), o grupo apresentou faixas do álbum “Perpétuo” e outros sucessos como “Fogo nos Racistas”. O show foi marcado pela energia visceral e por suas letras com forte mensagem social e antirracista, que incitaram rodas de mosh na plateia.
A programação do sábado contou ainda com Marcão Britto e Thiago Castanho celebrando o legado do Charlie Brown Jr., e com a guitarrista Larissa Liveir, que mostrou sua técnica em versões de clássicos do rock.
Este foi o terceiro dos quatro dias da 12ª edição do Best of Blues and Rock. O primeiro fim de semana do festival, nos dias 7 e 8 de junho, teve como grande destaque a Dave Matthews Band, que realizou duas apresentações com repertórios distintos, incluindo covers de Pearl Jam e Bob Dylan e a participação do gaitista Gabriel Grossi.
O britânico Richard Ashcroft, ex-vocalista do The Verve, também marcou presença nos dois primeiros dias, despedindo-se do Brasil com hits de sua antiga banda e homenagens a ícones nacionais, como Ayrton Senna e Zico. Barão Vermelho, Cachorro Grande e Paula Lima com o projeto “Soul Lee” completaram a programação da primeira parte do evento.
O Best of Blues and Rock chegou ao fim neste domingo (15) com shows de Deep Purple, Judith Hill e Hurricanes, fechando quatro dias de celebração na capital paulista.
Setlist Alice Cooper no Best of Blues and Rock (14.jun.2025)
- Lock Me Up (Intro)
- Welcome to the Show
- No More Mr. Nice Guy
- I’m Eighteen
- Under My Wheels
- Bed of Nails
- Billion Dollar Babies
- Snakebite
- Be My Lover
- Lost in America
- He’s Back (the Man Behind the Mask)
- Hey Stoopid
- Drum Solo (Glen Sobel, com trecho de “Black Juju”)
- Welcome to My Nightmare
- Cold Ethyl
- Go to Hell
- Poison
- The Black Widow (Solo de Nita Strauss, com banda)
- Ballad of Dwight Fry
- I Love the Dead (Somente banda)
- School’s Out / Another Brick in the Wall, Part 2 (Cover de Pink Floyd)
Bis:
- Feed My Frankenstein