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Criolo sobre ‘lei anti-Oruam’: ‘O que é mais fácil: censurar uma letra ou mudar a realidade?’

Rapper falou projetos de lei vistos como censura antes de show ao lado de Rael e Mano Brown no Espaço Unimed, em São Paulo

Criolo (foto) em show "Qual É o Crime?", que fez ao lado de Rael e Mano Brown no Espaço Unimed, em São Paulo | Fernando Schlaepfer - 22.fev.2025/Divulgação
Criolo (foto) em show "Qual É o Crime?", que fez ao lado de Rael e Mano Brown no Espaço Unimed, em São Paulo | Fernando Schlaepfer - 22.fev.2025/Divulgação

Antes de subirem ao palco do Espaço Unimed, em São Paulo, ao lado de Mano Brown, no último sábado (22), Criolo e Rael concederam entrevista no backstage, onde abordaram temas importantes como a “lei anti-Oruam”, vista por muitos críticos como censura. “O que é mais fácil para a sociedade: censurar uma letra que fala da realidade ou mudar a realidade da maioria das pessoas, que estão sofrendo neste momento?”, questiona Criolo.

Projetos com essa denominação, buscando proibir músicas com apologia do crime ou das drogas em eventos para o público infantojuvenil, foram protocolados em 12 capitais brasileiras nas últimas semanas. A proposta original é da vereadora Amanda Vettorazzo (União Brasil), de São Paulo.

O artista complementou sua crítica: “A gente podia censurar o sofrimento do Brasil, a gente podia censurar a fome do Brasil, a gente podia censurar a falta de respeito com os professores, a gente podia censurar a falta de respeito com a escola pública, a gente podia censurar a falta de respeito com a mãe de família solo ou pai de família que acorda e não sabe se vai voltar para casa, porque dependendo do território onde você mora, todo mundo é culpado, julgado e culpado. A gente podia começar o diálogo a partir disso”.

Rael também se manifestou. “O rap sempre foi um movimento que sempre olhou pra esse lado social, de passar uma visão. Mas eu acho que sempre foi uma ferramenta de autoconhecimento, de se situar. Eu ouvindo Racionais, por exemplo, pra mim foi como um resgate de identidade. Um bagulho que eu não via na escola, que eu não via na rua. E a partir do rap eu comecei a ter resposta para algum ato racista, para entender a diferença do social”. Para ele, “na verdade estão querendo calar esse tipo de liberdade de expressão”.

Após a entrevista, o trio apresentou o show “Qual É o Crime?”, algo semelhante ao que havia sido apresentado em festivais como o Doce Maravilha. O espetáculo, com direção artística dos três cantores, teve duração de 90 minutos, dividido em três blocos, combinando sonoridades e estéticas. ” A gente tem essa coisa da semelhança da resiliência, da luta. Eu acho que então esse show acaba sendo bem mais do que um show. Eu acho que é a celebração da nossa existência mesmo”, afirma Rael antes da apresentação.

O repertório revisitou a black music e o rap nacional com canções da carreira de cada um deles, além de clássicos de outros artistas como “Onda”, de Cassiano, “A Fuga”, de Xis, “O 5° Vigia”, de Ndee Naldinho. Criolo apresentou “Não Existe Amor em SP”, “Subirusdoistiozin” e “Convoque seu Buda”. Rael cantou “Envolvidão”, “O Hip-hop É Foda” e “Tudo Vai Passar”. Mano Brown encabeçou hinos do Racionais MC’s, como “157”, “Jesus Chorou”, “Vida Loka – Parte 1” e “Vida Loka – Parte 2” e “Negro Drama”, que contou com Edi Rock.

Dexter, parceiro do trio, foi outro convidado especial e entrou em cena para cantar “Oitavo Anjo”.

O show celebrou a trajetória e a conexão dos artistas, que têm em comum a origem na zona sul de São Paulo. “Esse show é muito emblemático. Nós três crescemos na zona sul de São Paulo, em bairros próximos: Grajaú, Jardim Iporanga e Capão Redondo. Sobrevivemos à falta de saneamento básico, violência policial e urbana de modo geral. Sobrevivemos através da nossa arte, fazendo rap”, diz Rael. Criolo ressaltou que “muitas pessoas descrevem o crime, que é sobreviver, estar vivo. Estar vivo para se fazer o testemunho da sua própria história, independetemente de estar no rap ou não. De onde a gente vem ter um testemunho e abrir um sorriso pode ser um crime também”.

 

 

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