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Forfun mata saudades em SP e faz homenagem a Rita Lee e Charlie Brown Jr.

Allianz Parque recebeu 45 mil pessoas para o show da turnê ‘Nós’, que reuniu os integrantes da banda após 9 anos

Vitor Isensee (esq.) e Danilo Cutrim em show do Forfun no Allianz Parque, em São Paulo | Alexandre Woloch - 9.ago.2024/CRIAmov/Divulgação

Vitor Isensee (esq.) e Danilo Cutrim em show do Forfun no Allianz Parque, em São Paulo | Alex Woloch - 9.ago.2024/CRIAmov/Divulgação

Muita coisa mudou desde os últimos dois shows do Forfun, em São Paulo, em 2015, ano em que a banda também encerrou suas atividades. Naquela oportunidade, foram dois shows para cerca de 9.000 pessoas em duas datas. Bem diferente de agora, com a turnê de reunião “Nós”, em cartaz desde julho pelo país, que levou 45 mil pessoas para o Allianz Parque, nesta sexta-feira (9), na zona oeste da capital paulista.

“Nunca achei na minha vida que eu ia dar boa noite a um estádio. Espero que vocês dancem, chorem, cantem muito alto e saiam daqui sem voz. A gente só vai conduzir, vocês que vão fazer.o show, divirtam-se”, disse ao público o guitarrista e vocalista Danilinho.

Ao longo de mais de duas horas e meia, o grupo formado por Danilo Cutrim (guitarra e voz), Nícolas Fassano (bateria), Rodrigo Costa (baixo e voz) e Vitor Isensee (guitarra, teclas e voz), teve o público na mão com um setlist nostálgico e eficiente na missão de amenizar o frio e a persistente chuva que atormentou o público no estádio do Palmeiras.

Ao todo, a banda tocou 42 músicas dos cinco álbuns de estúdio lançados pelo Forfun, além de homenagens a clássicos de artistas e grupos paulistanos, como Fat Family, Racionais MC’s e Rita Lee. Convidados especiais também marcaram presença. O primeiro a subir ao palco foi o guitarrista do Bruno Mars, o brasileiro Mateus Asato. Depois, foi a vez de dois ex-membros do Charlie Brown Jr: o guitarrista Tiago Castanho e o baterista André Pinguim.

Com 15 minutos de atraso, às 20h30, o show do Forfun começou com dois vídeos no telão que resumiam a história da banda, até a anunciada separação em 2015. Pelo menos cinco vezes, videos de bastidores de gravações, turnês e participações em programas de tv foram usados para fazer transições entre uma música e outra, aguçando ainda mais o sentimento de nostalgia que tomava conta dos fãs.

Na sequência, os primeiros riffs de “Hidropônica”, do álbum “Teoria Dinâmica Gastativa”, de 2005, puxados pelo guitarrista e vocalista Danilo Cutrim, foram mais que suficientes para uma explosão instantânea de alegria, que abriu caminho para a formação das primeiras rodas punks do show, aliviando assim um pouco das condições climáticas da noite, que não estavam das piores nas primeiras sete músicas.

A energia se manteve alta com a clássica “Good Trip”, do mesmo álbum, e “Dia do Alívio”, do disco “Polisenso”, de 2008, emendadas na sequência e cantadas a plenos pulmões pelos 45 mil presentes ao show.

A intensidade continuou com o rock “groovado” de “Suave”, do mesmo álbum, que marcou a transformação estética do Forfun. Nesse terceiro trabalho, a banda se distanciou do punk-pop à la Blink-182 e New Found Glory, e passou a incorporar elementos de reggae e groove, inspirando-se em grupos como Sublime, 311 e Red Hot Chili Peppers, entre outros.

 

“O Viajante”, por exemplo, tocada na sequência, traz muitas dessas referências e evidencia também as mudanças nas composições. “Pedi minhas contas, viajei e caí no mundão Vou ver o mundo tendo o mundo como anfitrião. Florestas, rios, cidades e litorais. Pessoas, sentimentos, tradições e rituais”, diz os versos cantados intercaladamente por Rodrigo Costa e Danilo Cutrim.

Se a temática das letras até o “Teoria Dinâmica Gastativa” ainda trazia um pouco dos amores, desamores e medos adolescentes do “Das Pistas de Dança às Pistas de Skate”, lançado em 2003, no “Polisenso” e nos álbuns seguintes “Alegria Compartilhada”, de 2011, e “Nú”, de 2014, os temas ficaram mais universais, como pode ser constatado logo nas duas músicas seguintes do show, em “Quando a Alma Transborda” e “Largos Leões”.

Na primeira, que contou ainda com um belíssimo solo de saxofone de Lelei Gracindo, essa universalidade se faz presente nos versos de Vitor Isensee que citam desde o astronauta russo Iuri Gagarin, ao jogador argentino Diego Maradona, passando pelo líder Nelson Mandela, todos devidamente mostrados nos telões. Já na segunda, essa característica, fica mais do que clara com a letra que presta uma belíssima homenagem ao Carnaval de rua do Rio de Janeiro.

O show seguiu em alta com o hit “Sol ou Chuva”, momento em que a chuva coincidentemente deu uma apertada, e foi para uma vibe mais contemplativa em “Cigarras” e “Minha Joia”. Com a chuva ainda mais forte, a apresentação continuou com “Aí Sim”, “Dissolver e Recompor”, “Cósmica” e “Morada”. As duas últimas bem lisérgicas e viajantes, que contaram ainda com as imagens “alucinógenas” dos telões para o ambiente ficar ainda mais psicodélico.

Em seguida, a banda chamou o guitarrista da banda de Bruno Mars e fã declarado de Forfun, Mateus Asato, para fazer uma participação especial em “Valer a Pena”, faixa punk rock do álbum “Teoria Dinâmica Gastativa” que não vinha fazendo parte do setlist da atual turnê. Asato mandou ver, fez um solo na entrada e na saída da música, e saiu muito festejado pelos integrantes do Forfun e pelo público presente.

Mas nada se comparou aos convidados seguintes: o guitarrista Thiago Castanho e André Pinguim, do Charlie Brown Jr. Eles subiram ao palco para tocar “O Universo a Nosso Favor”, música que o CBJR gravou com o Forfun, em 2007, para o álbum “Ritmo, Ritual e Responsa”. Os fãs pareciam não acreditar que a música –pouquíssimas vezes tocada ao vivo– era executada com membros da banda de Chorão (1970-2013). Ainda deu tempo para uma bela versão do hit “Só os Loucos Sabem”.

Depois, uma pausa de alguns minutos para um rápido descanso. Na volta, o palco se transformou numa espécie de roda de violão de amigos, para o Forfun viajar ainda mais no tempo e deixar o ambiente ainda mais nostálgico com o medley “4 A.M”, “Mentalmorfose” e “Melhor Bodyboarder da Minha Rua”.

As três músicas foram gravadas de forma plugada no “Teoria Dinâmica Gastativa”, mas antes, o “bootleg” delas em versões acústicas já tinham vida própria na internet, por meio da proliferação de programas de download de música, como Kazaa, Emule e Soulseek.

A session acústica teve ainda “Eremita Moderno”, do “Polisenso”, além de “Vou em Frente” e “Minha Formatura”, ambas do primeiro álbum do grupo e que nunca marcaram presença regular nos setlists das turnês dos discos posteriores, o que fez o público delirar com o momento “um banquinho e um violão” do show.

Para completar, o formato acústico também teve homenagens a artistas e grupos musicais de São Paulo. A banda tocou trechos de músicas de Fat Family, Sampa Crew, Racionais MC’s, MC Neguinho do Kaxeta, Adoniran Barbosa, Exaltasamba e Rita Lee, todas cantadas fortemente pelo público que se divertiu muito com o aspecto um tanto o quanto inusitado de algumas das canções.

Passado o momento das cordas, a banda voltou para a “porrada” com “Sigo o Som” e “Gruvi Quântico”, ambas presentes no “Polisenso”, o álbum mais representado no show com 11 músicas. Na segunda posição, com nove, veio o “Alegria Compartilhada” que, além da canção homônima, cedeu ainda “Tropicália Digital”, “Cosmic Jesus” e “Pra Sempre”, que encerrou de forma apoteótica o momento pré-bis.

A sequência final e matadora veio com “Constelação Karina”, “Seu Namorado É um Cuzão”, “Cara Espero”, “Costa Verde” e “História de Verão”, todas gravadas originalmente no “Das Pistas de Skate às Pistas de Dança”, mas regravadas e repaginadas no “Teoria Dinâmica Gastativa”, álbum produzido por Liminha que fez o Forfun ganhar mais projeção no cenário nacional, há quase 20 anos.

Passado todo esse período, a banda consegue tocar em um estádio lotado pela primeira vez na carreira. No imaginário do fã, nenhuma novidade, afinal, “puta que pariu, é a melhor banda do Brasil”, como eles costumam cantar. Foi com esse canto futebolístico que Danilo, Nícolas, Rodrigo e Vitor deixaram o palco do Allianz Parque.

Depois da capital paulista, a turnê “Nós” segue para Curitiba (16/8), Santos (17/8) e Rio de Janeiro, com 3 datas sold out na Marina da Glória (23, 24 e 25 de agosto). Em novembro, tem Porto Alegre (8/11) que precisou ser reagendado devido as enchentes que atingiram o estado. A turnê chega ao fim em 23 de novembro com show no estádio Nilton Santos, no Rio. Mais informações sobre ingressos podem ser consultadas no site da Eventim.

Para alegria dos fãs, existe a chance do Forfun fazer mais shows depois que a atual turnê chegar ao fim. Mais de uma vez, durante a apresentação desta sexta (9), os integrantes deixaram no ar essa possibilidade. Público consumidor parece não faltar.